A Inteligência Artificial é o ponto de partida para longos debates recheados de dúvidas. Reunimos os principais posicionamentos do mercado e de especialistas para refletir o tema.
Com uma maioria masculina, 89% dos acessos, o Brasil é o quinto país que mais acessa o Chat GPT, segundo levantamento feito pela empresa Semrush. Na frente de países como Reino Unido e Espanha, o número mostra a curiosidade do brasileiro para a tecnologia e abre a discussão sobre as mudanças que chegam com a Inteligência Artificial.
A cada novo capitulo da evolução da AI, que tem sido assustadoramente rápido, as perguntas permanecem: Como adequar o processo criativo? Quando aderir às inovações? Preciso me preocupar? Vou perder meu emprego? Como garantir segurança?
E como tudo é novidade e o ambiente ainda é muito incerto vamos refletir juntos conforme as percepções e análises que fizemos.
Inteligência Artificial é uma ferramenta para criatividade
Durante o evento Web Summit Rio (Maio/23) as nuances ligadas a criatividade e AI foram tema na palestra: Will generative AI transform marketing and advertising?
Ainda que seja muito cedo para conclusões, as opiniões compartilhadas defendem que a IA seja uma ferramenta de apoio na rotina de criatividade. Isso porque, em diversos casos, o processo de criatividade precisa de novas fontes, novas informações e novas ferramentas.
Da mesma forma, as bigtechs vendem que a IA não foi criada para substituir a criatividade humana e sim expandi-la e óbvio, criar novos modelos de trabalho. Os palestrantes citam como exemplo a aparição de habilidades como: saber desenvolver um prompt (comando de texto inserido para solicitar algo a AI), como uma das principais habilidades para o futuro e para resultados aplicáveis. Mas a realidade é que sim, como acontece com toda nova tecnologia, a IA substituirá algumas profissões e devemos nos preparar para as mudanças.
Quem é o dono da ideia?
Sem dúvida, uma das discussões mais complexas é a definição de quem pertence o conteúdo gerado pela AI. Ainda sem legislação, o consenso parece ser que a ideia pertence para quem elaborou o prompt.
Daniela Braga, fundadora da Defined.ai, disse durante o Economic Forum Consumer Technology Association que devemos focar em uma questão de cada vez para decolar junto a todas as possibilidades criadas pela AI. Impor limites, decidir direitos autorais, estabelecer regras, penar nos desdobramentos dessas questões na sua área de atuação. Ao que parece, o bom senso humano é, até o momento, o principal regulador e o que nos fará avançar em todos esses aspectos
A capacidade artística da Inteligência Artificial
Naturalmente o campo das artes é fértil para materializações diversas. Já assistimos objetos comuns se transformarem em obras de arte graças a intervenção humana. No caso da arte digital, a AI promete revolucionar as possibilidades para o artista criar o impossível.
No melhor estilo livre para criar, Betamax, artista digital, disse ao vice que costuma explorar as possibilidades da IA derramando cenários, conceitos e ideias possíveis e impossíveis para o programa de criaçãoe depois, ela seleciona os resultados entregues.”Eu pego o melhor e deixo o resto.” Disse ao Vice. Seu Instagram é a materialização dessa mente que sonha o impossível e convida as reflexões sobre o potencial de criação da AI.
Independente das resistências e dos debates acalorados sobre considerar ou não a produção feita pela AI como arte, a verdade é que existem habilidades necessárias para obter do robô o melhor que ele tem para oferecer. Os artistas que usam AI defendem que além da decisão final do que é relevante ou não, também é necessário esforço para acertar o prompt.
A personalização da audiência
Ainda sobre a importância do prompt, temos o debate sobre a assertividade da IA quando o assunto é personalizar a audiência. Dentre as promessas, a personalização de conteúdo para cada pessoa de acordo com faixa etária e outros aspectos do público é um dos atributos mais promissores, segundo as discussões do Rio Web Summit.
Nós humanos ficaremos com o trabalho de definir com quem queremos falar e construir os comandos (prompt) para que a IA fique com o trabalho pesado de produzir e entregar o material correto para cada pessoa.
Um exemplo já bem conhecido sobre essa funcionalidade é a segmentação feita pelas redes sociais por meio de aplicativos como Google Adds e serviços de streaming como Netflix.
Acontece que daqui para frente, a precisão ao identificar as intenções do usuários será o destaque. Graças a interfaces mais naturais de comando de voz, reconhecimento facial, gestos, etc. O que significa que teremos uma IA cada vez mais imersa em nosso mundo, sentimentos e desejos.
Influencer digitalizada
Um exemplo recente da aplicação dessa tecnologia é o mercado de influenciadores. Parece que a Magalu está prestes a ganhar amigos e a tendência é que os influencers de carne e osso sejam substituídos por avatares criados pela AI. Olivia Merquior, pesquisadora do tema disse a revista Vogue que uma influenciadora digitalizada tem um potencial de engajamento três vezes maior que um humano, graças a personalização do conteúdo.
Nesse contexto, você pode criar um avatar para entrar no seu lugar de influencer, para substituir sua logo ou para ser um personagem adicional na história da sua marca. Portando, a fórmula não é simples e cada uma das possibilidades exige um roteiro que esse personagem irá seguir. Afinal, os dados servirão para guiar a personalização, mas o avatar precisa ter vida própria e a chancela humana é que definirá se o conteúdo está humanizado suficiente.
Audiovisual
Já falamos brevemente sobre a interferência da IA no audiovisual por aqui quando abordamos a visão do Doc Comparato sobre o que é um roteiro de sucesso. Além dele, o que os exemplos mostram é que a insegurança de ter suas habilidades substituídas pela IA ainda não deve ser o foco. Por hora, o mercado indica que é hora de abraçar as inovações.
Porém, esse ainda é um impasse, principalmente para os roteiristas. Um movimento recente de roteiristas em Hollywood quer proibir os estúdios a utilizarem IA nas produções. Eles estão promovendo uma greve para chamar atenção para baixa remuneração do setor, que pode piorar com a implementação da IA.
Porém, esse ainda é um impasse, principalmente para os roteiristas. Um movimento recente de roteiristas em Hollywood quer proibir os estúdios a utilizarem IA nas produções. Eles estão promovendo uma greve para chamar atenção para baixa remuneração do setor, que pode piorar com a implementação da IA.
Isso porque, a criação de imagens ultrarrealistas junto a edição com cortes automáticos resulta no aumento da produtividade e da qualidade das produções. Atualmente essas ferramentas estão sendo amplamente usadas no mundo do audiovisual e permitem que o ser humano esteja focado em aspectos mais sublimes como a emoção.
O caminho do meio para o audiovisual
Entretanto, alguns roteiristas já encontraram o caminho para usar a IA em seu favor. Autointitulada “storyteller from the future” Karen Palmer é um exemplo.Cineasta e artista de realidade virtual Karen usa IA em suas produções audiovisuais justamente para explorar a emoção da audiência.
Em seu projeto chamado RIOT ela explorou um storytelling inovador em que o espectador, durante o decorrer da narrativa, tomava decisões que mudaram o fim da história.
Também focado na imersão, outro projeto de Karen promoveu a interação com o público por meio de um sistema chamado “MindGame”. O programa de reconhecimento facial adapta a história conforme às reações emocionais do público. Suas produções abordam questões raciais, neurociência e preconceitos implícitos na mente humana para direcionar a narrativa guiada pelo seu roteiro, mas que ganha vida na cocriação junto a audiência somada a IA.
Dirigir uma produção audiovisual é fazer com que a pessoa pense o que você pensa. Da mesma forma, o diretor precisa comunicar para Inteligência Artificial aquilo que está pensando. E mais uma vez a intervenção humana na hora de criar o comando é que vai contar para elaborar um conteúdo convincente.
De quem é a música?
As possibilidades envolvendo produção musical são, com certeza, um dos campos em que o debate é mais acalorado. Entre lados positivos e negativos, a pergunta final é sempre: mas música não é a expressão sublime da alma do artista?
Se assim for, podemos dizer que a artista Taryan Southern emprestou sua sublime voz a Amper, uma plataforma de IA, que lançou seu álbum intitulado “I AM AI”, o primeiro gerado em parceria com IA. A artista também foi uma das primeiras a validar o uso da tecnologia como ferramenta criativa e levantar a bandeira da colaboração entre humanos e máquinas para criar expressões artísticas. Atualmente, seu trabalho gira em torno das intersecções entre IA e Humanos não só na música, mas, também ramos da ciência como biologia e neurociência.
Positivamente, Taryan usa a IA para explorar funcionalidades como, agilidade no tratamento das músicas e democratiza ferramentas que antes eram exclusivas de gravadoras com alto poder aquisitivo, como a masterização.
A volta da Jukebox
Nesse contexto, o projeto Jukebox da OpenAI, mesma criadora do Chat GPT é um destaque. Primeiramente, o nome, uma referência direta aos 80, pretende se conectar com a audiência com o que resta de humanidade na ideia. Já falamos sobre a exploração dessa tendência por aqui e como ela se relaciona com a IA
Além disso, a ferramenta permite elaborar música do zero de acordo com informações fornecidas pelo artista. Os comandos incluem: conjuntos musicais, melodias e batidas para que a IA possa analisar. Mais uma vez, fica evidente que, por hora, tudo depende das orientações escritas no prompt.
Simultaneamente, é nesse ponto também que temos o debate sobre de quem serão os direitos autorais e por enquanto não são os robôs a maior ameaça. Algumas empresas como ByteDance (dona do TikTok) defendem que os royalties irão inteiramente para as empresas de IA e não irão compartilhar com os criadores humanos. Um problema que já acontece com as gravadoras que detém maior parte dos lucros em detrimento dos compositores.
O mercado de Inteligência Artificial: é hora de abraçar?
Todas as inovações acima refletem um mercado competitivo em que diversas empresas estão comprometidas em desenvolver cada vez mais opções de modelos de AI independentemente da função.
É nesse cenário que acompanhamos no mês de maio a declaração do Google em relação à corrida para voltar a ocupar o espaço de “AI Fisrt”. Há dois anos, a empresa foi a criadora do modelo de linguagem utilizado pelo Chat GPT. Por questões internas mal resolvidas, não lançou a inovação na época e hoje corre atrás para retomar o lugar perdido no mercado.
Ou seja, a readequação da estratégia de branding com o slogan “AI first” deixa claro que daqui para frente o Google é uma empresa de IA e terá a tecnologia como parte central de todos os seus produtos, anunciando lançamentos nas áreas de saúde, mobilidade e sustentabilidade.
Logo, na dúvida se é hora de abraçar as possibilidades de mudança, o exemplo do Google demonstra não haver tempo para esperar.
Mas e a segurança?
Acima de tudo, o desafio que parou o Google há dois anos é o mesmo de todos os players do mercado atualmente: segurança, privacidade, uso de dados, limites e regulamentações. Até o momento não existe um plano de legislação para as funcionalidades criadas pela IA e até mesmo os criadores da tecnologia desejam que o governo interfira no caso.
No caso da segurança, a IA pode ser usada para o bem, identificando comportamentos anormais e prevenindo ameaças aos sistemas online. Mas, pode também ser explorada por pessoas mal intencionadas para criar ataques automatizados em grande escala.
No caso da privacidade o debate não é novo. A Lei de Proteção de Dados já ilustra o desafio atual em relação ao tema. Porém, na IA o uso de dados é a base de qualquer programa, o que aumenta os riscos caso ocorra vazamento.
Por fim, as deepfakes, que parecem ser o maior desafio. A IA pode criar voz, alterar vídeos e fotos e com isso produzir cenários irreais para contar uma história. Essas ferramentas, se utilizadas sem compromisso com a verdade, criam fake news difíceis de serem combatidas.
Portanto, o posicionamento do governo em relação à tecnologia é urgente.
Inteligência Artificial, criatividade e Be.Content
Seja qual for o caminho que IA nos conduza, a Be. sustenta que só humanos são capazes de explorar a complexidade de sentimentos e as inúmeras camadas existentes no outro. Sendo o resultado dessa conexão algo singular para cada troca.
Portanto, assumir que a AI será capaz de substituir a criatividade humana é resultado de um esvaziamento e desmerecimento das relações reais. Já que até o momento, como vimos acima, a AI com respostas binárias resultado de machine learning, não elabora instintivamente questionamentos sociais sem o suporte de um prompt humanizado.
Mais uma vez, a Be. defende que é necessário entender essa intersecção como uma nova forma de produzir que em nada substituí o papel humano, mas sim reescreve. Esse texto, por exemplo, foi elaborado a partir de quatro fontes de informação. Notícias de jornais, palestra do Rio Web Summit, debate entre amigos e a própria Inteligência Artificial.
Ficou curioso para testar os poderes da Inteligência Artificial?
Indicamos aqui alguns aplicativos e sites para você começar a se aventurar
Chat GPT
É um chatbot online que cria textos de acordo com sua solicitação. Ótimo para auxiliar na criação de resumos, artigos, roteiros e pesquisas.
Lensa
Ficou conhecido como o aplicativo dos “avatares mágicos”, pois, a partir de várias fotos do seu rosto,gera diversas imagens.
Synthesia.io
Você dá o roteiro de texto e o aplicativo cria as imagens em vídeo ultra realista. Para isso, utiliza um banco de dados que replica gestos humanos, padrão de fala e resulta em personagens humanos para atuar ou apresentar.
Midjourney
Esse é ótimo para quem gosta de materializar a imaginação. Você elabora a descrição da imagem, escreve o prompt, comando dado a IA, e o Midjourney entrega a imagem conforme as características que você pediu.
Poised
Focado em otimizar sua oratória, esse programa assiste suas reuniões e analisa seu discurso. Com base em um banco de dados, sugere melhorias para uma comunicação mais efetiva.
Super Meme
Imagina em algum tema que precisa de um meme? Digite as informações relacionadas a esse tema e o programa sugere texto e imagem sobre o tema que você inseriu. Exemplo, eu inseri a palavra: chocolate e essa foi uma das imagens que a IA gerou.
Thing Translator
Aponte sua câmera para um objeto e o aplicativo fará a tradução do que está escrito para linguagem que você escolher. Prático para viajantes e leitores que se deparam em textos em outra língua.