Artistas e marcas traalham com o desafio de equilibrar expressão artística e rentabilidade. Embarque na jornada onde a convergência entre criatividade e lucro se transforma em arte.rna uma arte em si.
Músicos, designers, escritores, artistas em geral, não há um criativo que não sonhe em ter seu trabalho reconhecido e fazer dele seu principal ofício. O caminho entre a criatividade e o lucro parece estar cada vez menos óbvio e pode precisar de alguns golpes de sorte e ousadia para se revelar.
Em uma reportagem recente para o The Guardian, a jornalista Lauren Cochrane chama atenção para como a Fashion Week, tradicionalmente um evento crucial para os designers ganharem visibilidade entre compradores e editores, tornou-se financeiramente onerosa. Segundo o artigo, o resultado são produções que favorecem o lucro em detrimento da criatividade.
Artistas, CEOs e jornalistas especializados no assunto buscam entender e apresentar possibilidades para preservar o pensamento criativo em indústrias afetadas por mudanças mercadológicas, evolução tecnológica ou novos cenários econômicos que não comportam mais a arte pela arte apenas. Então, quais seriam as soluções possíveis?
Educação empresarial
Para a jornalista Nina Maria, que escreve sobre novos designers e o mundo da moda, o problema está em subestimar a gestão de negócios nos currículos de formação dos criadores. O comportamento é resultado da cultura predominante nas instituições de ensino de arte, design e criação. Os cursos, muitas vezes enfatizam a ideia de que os formandos devem iniciar suas próprias marcas, sem qualquer experiência ou preparo para isso, levando a expectativas irreais. Eles não contemplam conhecimento sobre gestão e administração de empresas, mas mesmo assim, incentivam aos criadores serem donos da própria ideia. O resultado, são inúmeros novos empreendimentos sem saúde financeira para se sustentar no mercado.
Nina Maria fundadora do portal 1 granary
“Eu não acho que o espírito dos jovens designers de Londres vai acabar, mas acho que será diferente. Será muita gente vinda da riqueza, pessoas que podem se dar ao luxo de manter um negócio deficitário por muitos anos.
Em um mundo onde precisamos nos preocupar cada vez mais com as consequências e impactos das nossas ações, como podemos preservar a liberdade do pensamento criativo e inovador e, ao mesmo tempo, mantê-lo relevante para o mercado?
É possível atender a demanda de mercado e escalar a indústria criativa?
O caso dos filmes dos heróis é um ótimo pano de fundo para refletir o valor da criatividade no audiovisual. O ano de 2023 foi o pior ano para os filmes de super-heróis, com sucessivos fracassos de bilheteria e arrecadação. Para o diretor Martin Scorsese, parte do problema está na precariedade criativa desse gênero de filme em relação à história. Segundo ele, as histórias têm pouca originalidade, sempre sujeito a uma jornada já estabelecida, além de não oferecer mais do que uma conclusão temporária e superficial. Especialistas destacam que tanto a Marvel quanto a DC têm lançado filmes que seguem fórmulas genéricas e já exploradas. Ou seja, não levam o telespectador a uma reflexão, resultando em recepção morna e grandes desafios financeiros.
Na contramão dos grandes estúdios, quem parece ter encontrado um caminho para priorizar a criatividade é a produtora de filmes A24. No mercado desde 2012, a empresa foi fundada pelo investidor Daniel Katz e isso já diz muito sobre a relação disruptiva com a criação. Daniel convidou dois amigos, David Fenkel e John Hodges que compartilhavam da ideia de que os filmes atuais pecavam ao apresentar histórias muito genéricas.
O caminho para encontrar narrativas mais originais foi fechar parcerias com produtores independentes e agir como uma curadoria dessas produções. Assim, considerando que o ponto forte das produções independentes é justamente a liberdade criativa, já que não precisam priorizar regras de mercado, a A24 passou a promover filmes revolucionários, diversos e com aspectos visuais e narrativos disruptivos para a indústria. Como foi o caso do vencedor do Oscar 2023, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.
Além da sensibilidade artística e intuitiva na hora de escolher os filmes, a A24 foi uma das primeiras produtoras a investir em uma linguagem não tradicional de divulgação, deixando de lado o outdoor e mergulhando nas redes sociais.
“Grandes ideias começam no papel”
Daniela Riccardi, CEO da Moleskine, busca provar a relevância da marca, tão afetada pelas questões ambientais e avanços digitais, como ferramenta para processos criativos. Reconhecida por produzir cadernos que são espaços inspiradores de novas ideias e criação, Daniela destaca como a Moleskine vem se apoiando nestes valores para se reposicionar no mercado:
1. Exaltar o papel da Moleskine como ferramenta criativa
A CEO enfatiza que os produtos da Moleskine desempenham um papel essencial no desenvolvimento de pensamento criativo. Os cadernos são vistos como instrumentos que incentivam a expressão, captura de ideias e desenvolvimento de conceitos em tempo real. Seguindo o storytelling da marca, o Moleskine é uma ferramenta para seguir seus passos e materializar seus pensamentos.
2. Criação de Ideias em Papel
Mesmo com dispositivos digitais disponíveis, Daniela sugere que a experiência tangível de escrever e esboçar em um caderno é única e fundamental para o processo criativo. Por isso, ela incentiva práticas de criação manual, inclusive no ambiente de trabalho.
3. Mentoria e Ensino da Criatividade
Daniela Riccardi
“You cannot consider yourself a leader if you don’t understand the dynamic of changing humanity.”
Para Daniella, parte do trabalho de CEO é ensinar e mentorar as gerações mais jovens a se desenvolverem como pessoas mais inteligentes e criativas do que eles foram. Ela reflete que em função da atual conjuntura social, em que o mundo escancara tantos problemas, os pais tendem a proteger as novas gerações. Contudo, isso não é saudável a longo prazo. Para Daniela, o caminho é incentivar que todos tomem controle das suas vidas, decisões e se responsabilizem por fazer do mundo um lugar melhor. O que cria um terreno favorável para criação.
4. Diversidade
A estratégia da Moleskine está centrada na missão de promover conhecimento, educação e o desenvolvimento do pensamento criativo e crítico. Para isso, a empresa quer enfatizar que o capital humano é onde a capacidade de criar ideias têm início. Nesse sentido, edições especiais de caderno estampam a cultura e arte asiáticas a fim de compartilhar cultura e conhecimento e promover a diversidade. Assim, parte da vida do usuário estará interligada com aspectos de outras culturas.
5. Sustentabilidade
Consciente de que sua matéria-prima principal é fonte de divergência na pauta sustentabilidade, a Moleskine se compromete com a redução de carbono seguindo um plano alinhado com o Acordo de Paris. Esse plano é validado pelo Science Based Targets initiative (SBTi) e inclui a medição e validação das emissões de CO2 por um auditor independente externo.
Onde a criativos encontram relevância
Ainda que o caminho pareça tortuoso, assim como Daniela, artistas e marcas apresentam caminhos para não deixar de lado seus sonhos de criação. Acompanhe abaixo como isso acontece nos diversos mercados.
Os caminhos de designers da América Latina
Em um cenário onde a criatividade é a força propulsora, designers emergentes da América Latina desafiam as limitações impostas pelas complexidades logísticas de produção da região e preconceito do Ocidente. Eles apostam em transcender fronteiras e ampliar a colaboração.
Àcheval (Argentina), por exemplo, supera restrições às importações colaborando com varejistas, enquanto Banzo (Cidade do México), investe em uma abordagem sustentável e se prepara para conquistar o mercado japonês. Já Lucas Leão, apesar das limitações de compradores locais no Brasil, utiliza tecnologia 3D e IA, evidenciando a fusão entre tradição e modernidade. Em meio a esses desafios, a resiliência e a autenticidade desses designers emergentes provam que a criatividade floresce onde há determinação e inovação.
Flexibilidade criativa
De volta a cena de moda de Londres, o artista Cezary, graduado da Royal Academy of Fine Arts Antwerum, enfatizou em uma entrevista para Nina a necessidade de equilibrar a criatividade com a compreensão da realidade fora do ambiente acadêmico. Para isso, mencionando sua disposição para retornar ao trabalho convencional se necessário.
Assim, principalmente no início de carreira, Cezary considera necessário estar aberto para ter sua criatividade aplicada na ideia de alguém ou marca já estabilizada no mercado. Esse caminho dá mais segurança para alçar seus próprios voos e apoia com contatos necessários no mercado
Disrupção
Momentos de adversidade são muitas vezes responsáveis por levar o surgimento de ideias revolucionárias e criativas. Assim, artistas e jornalistas argumentam que a criação precisa redescobrir e valorizar seu espírito disruptivo e provocativo para superar os desafios atuais.
A designer de calçados Marie Laffont contou em uma entrevista para Forbes como a IA a auxiliou no processo de criação do conceito da sua nova coleção de calçados. A coleção, “UCRONIA” apresenta uma narrativa distópica que mistura elementos de inverno ao humor urbano da cidade de Nova York, somados a inspirações vindas do filme “12 Macacos”.
Marie Laffont
“A IA me permitiu criar e projetar mundos que existiam apenas na minha mente. 100% do meu último catálogo foi feito com IA”
Influenciadores viram criadores
As empresas sabem que humanizar as marcas é um caminho para se destacar no mar de conteúdos das redes. Por isso, o mercado de influenciadores também está a mercê do lucro.
A influenciadora Giovana Ferrarezi tem ganhado destaque quando o assunto é fazer publicidade que preserva sua personalidade e liberdade criativa. Acima de tudo, ela faz isso sem desconsiderar seu tom de voz e ainda assim, exaltar os benefícios das marcas para quais trabalha.
Autodenominada em sua conta no instagram como a “rainha das publis” e especialista em “roteiros criativos”, ela defende a importância que marcas permitam aos seus influenciadores criarem os publiposts de acordo, principalmente, com o tom de voz de cada influenciador, já incorporado naquele perfil. Para isso, Giovana aponta que o melhor caminho é construir uma história em que o produto em questão aparece inserido na narrativa com autenticidade e por vezes “em segundo plano”. Desta forma, essas personalidades deixam de ser apenas um meio de influenciar e passam a ser criadores ativos nesse processo.
Nesse sentido, para preservar o tom exigido pela marca, o que resultará no retorno financeiro daquele conteúdo, é preciso optar por alguém que já compartilhe valores parecidos. Só assim, a narrativa, que irá se adaptar a realidade do criador, terá tom de voz comum e mesmo assim será autêntica.
Quando criatividade e lucro convergem
No cenário dinâmico e desafiador em que criatividade e lucro se entrelaçam, diversas abordagens emergem como respostas. Assim, parece que a busca desse equilíbrio é também um exercício de criatividade. Afinal, ganha quem dispõe de confiança para apostar rapidamente em ideias autenticas (antes da concorrência), sem deixar a estratégia de lado. Ou seja, no desafio de conciliar criatividade e lucro, a valorização do conhecimento aparece como um pilar que permite desde o desenvolvimento de ideias com o auxílio de tecnologias inovadoras, até a gestão eficaz e lucrativa delas.
Beijos da Be
😎💡🎬