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O entretenimento também virou marca

Entenda como o entretenimento utiliza os conhecimentos de branding para fazer das produções uma marca forte no mercado.

Na era do streaming, onde o consumidor tem um mundo de opções, ou opções de todas as partes do mundo, na palma da mão, ter seu conteúdo escolhido, precisa mais do que uma boa sinopse. Desta forma, fazer do produto de entretenimento também uma marca, com uma estratégia completa de branding, é uma saída.

Vimos isso acontecer no ano passado com a Barbie, que se fez presente durante meses em nossa rotina nas mais diversas ações, collabs e experiências digitais para consumidor. E percebemos o mesmo tipo de estratégia no lançamento de “Guerra Civil” da produtora independente A24.

Acompanhe como os grandes estúdios de Hollywood e as produtoras independentes, apostam no branding para criar marcas fortes para suas produções a fim de impulsionar a bilheteria antes do lançamento de seus filmes.

A imersão do público no tema de “Guerra civil”

entretenimento marca guerra civil

Dentre as fases consideradas ao desenhar uma identidade de branding para um produto audiovisual, as produtoras parecem apostar muitas fichas nas experiências online. Para imergir o público em uma jornada dentro da história, elas buscam propor um diálogo a respeito das questões tratadas nos filmes e trazem os personagens e elementos das produções para nossa rotina. Com isso, aumentam a conscientização da marca e consequentemente a bilheteria. 

O lançamento do filme “Guerra Civil” da produtora independe A24, é um dos exemplos mais recentes de uma produção que com diversas ações de marketing para impactar a audiência em diferentes pontos de contato. Segundo a plataforma de conteúdo, Fanbox, que analisa o mercado audiovisual, isso posicionou “Guerra Civil” como um evento cinematográfico imperdível. E o destaque são justamente suas realizações técnicas e experiência imersiva.

O lançamento

Tudo começou com uma estreia amplamente divulgada no festival South by Southwest (SXSW), referência em criatividade. No painel sobre o filme, os atores falaram sobre a importância do filme em tempos de sociedades polarizadas.  Além disso, a produtora investiu em uma estratégia de marketing que se ajustou com base no feedback do público. O trailer, por exemplo, foi alterado conforme dados responsivos sobre a reação da audiência, priorizando cenas de ação e elementos mais eficazes para ampliar o apelo do filme. Segundo a Fanbox, essas adaptações resultaram em um aumento estimado de $12 milhões na receita total de bilheteria.

Outro ponto de destaque foi a persistência da A24 na temática dos soldados de brinquedo verdes. A ação digital enfrentou alguns boicotes iniciais pelo uso de Inteligência Artificial para produção do banner de divulgação. Mesmo assim, empoderar o usuário a gerar seu próprio conteúdo na temática do filme foi bem-sucedido em solidificar a conexão entre os soldados verdes, ‘Civil War’ e o telespectador.

Ou seja, para destacar-se na economia da atenção atual, a descoberta de uma produção pela audiência não é mais um processo linear e a produto precisa atingir os fãs em diversos pontos de contato. Começando pelos trailers até eventos ao vivo e também nas plataformas de mídia social.

Da publicidade ao audiovisual

entretenimento marca zona de interesse

Dado a relevância de uma campanha publicitária robusta para o lançamento de uma produção, o caminho que leva publicitários para o mercado audiovisual é comum na indústria e tem gerado bons frutos. 

Johnnie Burn, que conquistou o Oscar de “Melhor Som” em 2024 por seu trabalho em “Zona de Interesse” é um exemplo dessa troca entre publicidade e o cinema. Quem assistiu ao filme não pôde deixar de notar o incômodo proposital causado pelos sons que escapavam do campo de concentração e tomavam conta do cenário de fachada do lar da família “feliz”. 

Assim, a publicidade pode servir como uma espécie de escola de preparação para o cinema. Ela dá aos profissionais a oportunidade de desenvolver suas habilidades criativas em um ambiente de menor pressão antes de entrar na indústria cinematográfica.

Segundo Johnnie Burn, que começou sua carreira como office boy, passar por todas as fases até chegar ao Oscar, foi essencial para cultivar a atitude de aprendizado constante. Não à toa, ele constrói o mundo sonoro de uma produção baseado em uma pesquisa detalhada sobre cada aspecto do contexto. Em “Zona de Interesse”, que aborda a negligência das atrocidades ocorridas durante o Holocausto, esse mergulho acústico se fundamenta em uma extensa pesquisa nos arquivos de Auschwitz. Johnnie conta que procurou por descrições detalhadas e desenhos deixados por sobreviventes, além de sons autênticos da época, como aviões, motocicletas e armas usadas na Primeira Guerra Mundial. 

Esse trabalho oferece ao espectador a possibilidade de imergir na narrativa e conversa com uma estratégia de branding que preza pela criação de uma identidade sonora singular para cada filme. A prova disso é que outros trabalhos feitos por Johnnie, como Pobres Criaturas, seguem esse mesmo nível de excelência e exclusividade.

Nostalgia é o poder de uma marca forte

Produções audiovisuais que conseguem causar uma conexão emocional forte com a audiência, seja pela história, fotografia, memória olfativa e auditiva ou (normalmente) a união de tudo isso, ocupam um lugar especial em nossa cultura. Elas se tornam aquelas produções que serão sempre lembradas com ares de saudade, resultando em um sentimento conhecido como nostalgia.

Segundo uma reportagem da BBC, os consumidores são mais propensos a gastar dinheiro em marcas que evocam nostalgia. A estratégia geralmente segue um ciclo de 20 a 30 anos para desenvolver novas versões de produtos. Assim, a reintrodução é pensada para que crianças que experimentaram as memórias, agora adultos com poder de compra, vivam seus desejos.

Como o nostálgico evoca sentimentos de alegria, conforto e familiaridade, construindo uma identidade de marca forte e criando conexões emocionais, ele garante a atenção da audiência no mar de opções do entretenimento atual e se torna uma boa saída para garantir bilheteria. Afinal, nada melhor do que rever aquele filme antigo toda vez que precisar de uma sensação de conforto.

Os remakes

Assim, resultado de uma marca forte, o remake de produções ou as continuações de franquias que marcaram época está sempre em alta. Eles nos conectam àquele passado idealizado que cultivamos em nossa memória. Apenas no início de 2024 tivemos inúmeras estreias do gênero de volta às telonas. As franquias Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, Planeta dos Macacos e Road House (Matador de Aluguel), são alguns exemplos que atravessaram gerações provando que o que é bom permanece.

Contudo, o desafio dessas produções é manter ou superar o sucesso de bilheteria dos anos passados. A franquia Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, por exemplo, que vinha de um ótimo resultado com o lançamento de “Ghostbusters: Vidas Passadas” durante a pandemia, não conseguiu seguir a mesma fórmula de sucesso. Para o crítico de cinema Dalenogare, o filme de 2024 apela apenas para nostalgia e novo núcleo fica perdido no meio da narrativa e não consegue criar conexão com o público mais jovem. Segundo ele, algo parecido acontece com Matador de Aluguel, que em sua nova versão menospreza as cenas de ação. Este, o elemento principal de conexão emocional com o público da versão antiga.

Já a franquia Planeta dos Macacos, existente desde 1968, volta aos cinemas pela décima vez dia 09 de maio e promete causar uma reviravolta. Com a promessa de “honrar o que veio antes”, Wes Ball, diretor de Planeta dos Macacos: O Reinado, não irá menosprezar o legado das produções antigas. O que garante a nostalgia para os fãs que acompanham a sequência. Contudo, as principais expectativas giram em torno do espetáculo visual que promete ser entregue frente aos trailers divulgados.

A união do antigo e do novo

Um exemplo que conseguiu aproveitar tanto a conexão com o público mais velho pela nostalgia, quanto criar uma ligação com os mais novos é o filme“The Fall Guy”, conhecido no Brasil como “O Dublê”. Baseado na série de TV “Duro na queda”, o filme faz uma homenagem a cenas de ação que ficaram famosas, graças ao trabalho dos dublês.

As referências às produções antigas ganham o público pela nostalgia, mas é a narrativa, focada em mostrar os bastidores de uma grande produção cinematográfica pelo ponto de vista de quem se arrisca para que as cenas de ação pareçam tão reais, que encanta aos mais novos. Esse esforço para mostrar com consistência o lado do dublê é creditado a experiência real do diretor como David Leitch. Ele já foi dublê na vida real no início da sua profissão. Por fim, Ryan Gosling, fica responsável por engajar o público com o tom de comédia, aproveitando o carisma da audiência devido ao sucesso como Ken no ano passado.

Branding transmídia 

À medida que navegamos pela economia da atenção, onde os filmes competem com inúmeras outras telas, a transformação do entretenimento em uma marca com uma robusta estratégia de branding não é mais uma opção. Agora, é uma necessidade para garantir o sucesso e a relevância.

Prezar por um projeto que olhe para todas as oportunidades de contato com o público presentes nas entrelinhas de uma produção audiovisual é um esforço que só uma estratégia transmídia de branding faz valer a pena. Abraçar as mudanças e oportunidades do digital considerando cada sensação, (visual, sonora ou palpável) que sua marca pode causar no telespectador mostra o quanto o entretenimento transcendeu seu papel tradicional, de alugar seu tempo por 2 horas, e emergiu como uma marca poderosa. Agora, um filme não se trata apenas de algo que nos fará companhia em uma sexta-feira a noite, mas molda principalmente como nos conectamos e nos identificamos com o mundo ao nosso redor.  

Beijos da Be.

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