Entenda como as redes sociais ampliaram seu poder na sociedade pós-moderna influenciando desde decisões políticas até o entretenimento.
No início do mês de Abril, Elon Musk, dono da a rede social “X” (antigo twitter) entrou em um embate com o Alexandre de Morais, presidente do STF no Brasil. Por meio da própria rede social, Musk acusou o ministro de promover a censura e ameaçou não cumprir as determinações judiciais brasileiras para o X, em prol da contenção de conteúdo político inapropriado. Já no final do mês de abril foi a vez do TikTok entrar em um embate público com o governo dos Estados Unidos, diante da possibilidade de banimento da rede no país. Diante dos fatos, antes do fim das redes sociais, vemos a ampliação do seu poder na sociedade pós-moderna, fica cada vez mais evidente.
Ao demonstrarem sua força influenciando debates públicos, levantam uma questão: seriam as redes sociais as protagonistas do “quarto poder”, um lugar antes ocupado pelos jornais e a mídia, ou emergem como o quinto poder, com um novo lugar de influência nunca visto antes?
Conheça os poderes na sociedade
Ao longo da história diversos filósofos abordaram a divisão de poderes na sociedade como uma forma de organizar e otimizar a administração de uma forma mais justa para benefício do povo. A delimitação de três poderes vem desde Aristóteles, e passou por diversos filósofos até chegar na definição que conhecemos hoje. Nele, temos o poder legislativo (vereadores, deputados e senadores) responsável por fazer as leis, o poder judiciário, (STF, STJ, TST, TRTF, Conselho de Justiça, Juízes, etc.) responsável por garantir que a lei é aplicada conforme foi escrita e por fim o poder executivo responsável por administrar o governo e executar as benfeitorias.
Em 1828, o escritor, poeta e filósofo Thomas Macaulay, elaborou a ideia de “quarto poder”. Ele direcionou aos jornais e a imprensa o papel de vigilante das ações de autoridades dos três poderes em nome do interesse público. Agora, na pós-modernidade, antes do fim das redes sociais, as mesmas emergem como um poder adicional à conjuntura política. Acontece que agora, ao invés do papel de vigilância estar nas mãos das mídias tradicionais de comunicação, regidas por normas e regulamentações, incluindo a publicidade, as redes sociais e cada um de nós, usuários, passamos a dominar este papel. Contudo, sem a regulamentação necessária e alienados por uma lógica algorítmica.
No caso das redes sociais, o poder de influência na forma que nos informamos é real. Uma pesquisa da YPulse para o site Axios de abril (2024) apontou que 64% da Geração Z usa o TikTok como motor de busca nos EUA. Por isso, a discussão em torno da regulamentação passa por questões de liberdade de expressão e as tensões com governos do mundo afora se intensificam.
TikTok uma rede forte de comunidade
No meio dessas discussões temos o TikTok atuando como protagonista de uma briga entre Estados Unidos e China. Frente às dúvidas, sobre a segurança dos dados dos usuários e suas ligações com o governo de Pequim, o presidente Joe Biden sancionou um projeto de lei que determina a proibição da rede social nos EUA. Em resposta, a ByteDance, dona da plataforma, entrou com um processo alegando que o ato é inconstitucional. Isso indica que essa história ainda pode levar alguns anos para ter um fim e a plataforma seja de fato tirada do ar.
Em meio a pressão para que a rede social prove segurança dos dados, a gerente geral do TikTok para América Latina, Gabriela Comazzeto, preferiu focar no qualidade da empresa como incluenciadora de hábitos de consumo. Durante o Web Summit Rio (2024) Gabriela exaltou essa face de mobilização de comunidades do TikTok. Ela exemplifica o caso com um acontecimento recente da marca de produtos Skala. Após ver um dos seus produtos viralizar na plataforma a marca precisou criar um novo plano de distribuição para atender a demanda internacional.
Além disso, Gabriela ressaltou que diversos segmentos do comércio já usam “o que bombou no TikTok” como referência para posicionar seus produtos ao cliente. Seja em farmácias, livrarias, lojas de cosméticos ou supermercados, todos já contam com uma sessão destinada aos virais do TikTok. “É a comunidade que tem voz”, diz Comazzeto para exaltar como os usuários da plataforma influenciam o mundo real.
O poder das redes é o poder do povo
A verdade é que influenciar o mundo real não é só um atributo do TikTok. E esse poder de influência devido à mobilização popular por meio das redes sociais já se mostra uma realidade a ser considerada por marcas. Acompanhe 3 vezes em que os usuários influenciaram as decisões de marcas por meio das redes sociais. Nelas, a voz do povo materializou a vontade das comunidades vindas dos apelos do mundo digital.
1. Mc Donalds
Por meio do Facebook, os fãs dos sanduíches de bagel, se organizaram para expressar o desejo que o sanduíche voltasse a ser comercializado nas lojas. Respondendo à mobilização, o McDonald’s decidiu reintroduzir os sanduíches em seus restaurantes. A novidade chamou atenção do mercado pela interconexão entre as plataformas digitais, as demandas dos consumidores e as decisões corporativas.
2. Starbucks
Em 2019, a Starbucks enfrentou uma crise de relações-públicas quando lançou um novo design de copo de férias que desagradou muitos consumidores. As críticas e pedidos de mudança foram amplamente compartilhados nas redes sociais, levando a Starbucks a se posicionar com base no feedback dos usuários.
3. Quaker Oats
Em 2020, após uma onda de críticas nas redes sociais, a marca de cereais Quaker Oats anunciou que iria retirar a imagem da “Aunt Jemima” de suas embalagens devido às críticas de que a personagem era baseada em estereótipos racistas.
Os novos acordos com estúdios de música
No meio dos debates sobre a validade do TikTok e a ampliação da sua influência em nossas vidas, os estúdios musicais também protagonizam uma relação polêmica com a rede.
De um lado, o TikTok se desponta como um dos principais meios para promoção de novos artistas. Atualmente, 75% dos usuários na plataforma descobrem novos artistas para ouvir no aplicativo.
Sendo o TikTok esse lugar para promoção e descobrimento de música, a UMG (Universal Music Group) apresentou um novo acordo para que músicas de cantores como Drake e Taylor Swift voltassem à plataforma. No novo acordo, a Universal anunciou melhora na remuneração para os compositores e artistas, novas regras para proteger os artistas contra IA, novas oportunidades promocionais, referentes as oportunidades emergentes de e-commerce.
Porém, se o TikTok for banido nos EUA, a exposição das músicas dos artistas da Universal será limitada. Isso pode afetar os benefícios definidos no acordo atual. Jem Aswad, jornalista de entretenimento da Variety aponta que esse impasse significa que podemos esperar mais capítulos dessa negociação. Acima de tudo, pelo impacto negativo que essa proibição teria na capacidade de promover para distribuir música de forma eficaz nos EUA.
O poder das redes sociais nos relacionamentos românticos
Simultaneamente, outra rede social que implica e transforma comportamentos sociais pós-moderno são os aplicativos de relacionamento. Conhecido como “dating bournout”, a reação negativa dos mais jovens a esses apps materializa o poder que eles implicam em nosso comportamento em relação à paquera.
Atentas a essa e outras movimentações que incluem a crise da solidão, aplicativos de relacionamento como o Bumble, por exemplo, resolveram inovar da abordagem e falar do problema abertamente. A nova campanha da empresa aborda o cansaço do processo de namoro com uma abordagem bem-humorada, aproveitando o cansaço como um motivador relevante.
Com anúncios digitais e externos, as peças publicitárias criam um multiverso em que indivíduos vão aos extremos. Nele as pessoas evitam namorar para encontrar consolo na plataforma do Bumble. Junto a campanha, o Bumble apresenta uma experiência de aplicativo redesenhada com o recurso Opening Moves, dando mais poder as mulheres, permitindo que elas definam perguntas iniciais para possíveis combinações.
Acima de tudo, o novo posicionamento com um olhar de gênero afiado veio após a entrada da nova CEO na companhia, a brasileira Lidiane Jones. Ela está à frente da próxima fase de crescimento da Bumble. Iniciada em 2024, o aplicativo será redesenhado para o envolvimento do usuário enquanto aborda os desafios do namoro moderno.
O maior poder está em nós
Com tantos desdobramentos da influência das redes sociais em nossa sociedade, fica evidente sua atuação como um novo poder na dinâmica social onde o protagonista são os usuários, que devem não somente utilizá-las mas também ter o controle do seu uso.
Nesse sentido, a repercussão da discussão entre o ministro Alexandre de Morais e o Elon Musk é um ótimo exemplo de como as redes têm o poder de descredibilizar reações e afetar desdobramentos políticos. Ao responder o dono da plataforma “X” pela própria rede ao invés de ignorar as mensagens, o ministro Alexandre de Morais, que ocupa um cargo público de confiança, perde a oportunidade de fortalecer o poder do governo. Com a atitude, ele direciona um tema que deveria ser tratado seriamente nos tribunais do judiciário para os tribunais da internet, onde quem “manda” ainda é Elon Musk.
Seja na política, nos jornais, e agora nas mídias sociais, o risco de manipulação acontece em qualquer relação de poder. Por isso, é essencial que busquemos uma ação mais ativa a respeito de tudo o que consumimos, que sejamos mais críticos em relação ao conteúdo que nos informa e usemos nossa voz de maneira responsável.
Portanto, se as redes sociais ainda não dispõem de regulamentações firmes por parte do governo, cabe a nós o discernimento para nos posicionarmos em prol do bem comum. Desta forma, aproveitamos o potencial do mundo digital para promover mudanças positivas na sociedade e moldar um futuro mais justo e inclusivo para todos. Enfim, exercer o poder de SER e respeitar diferentes formas de existências nunca foi tão necessário.
Beijos da Be.