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Marketing e Saúde Mental: quando o ser é fundamental para parecer 

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Entenda como marketing e saúde mental se relacionam e como autenticidade na vida pessoal e empresarial contribuí para construir uma relação harmoniosa.

Em 1994 um jovem de 17 anos, que dirigia um Mustang amarelo, cometeu suicídio nos EUA. Em seu velório, seus pais distribuíram fitas amarelas com informações sobre saúde mental e iniciaram um movimento, apoiado pela Associação Internacional para prevenção do Suicídio, para conscientização sobre o assunto. Quase 20 anos depois, o tema é debatido com maior abertura por diversos setores da sociedade e já é comum saúde mental e marketing estarem na pauta de marcas e empresas.

Assim, sabendo que hoje os consumidores esperam das marcas excelentes produtos e apoio a questões sociais, profissionais de marketing devem estar atentos às responsabilidades que este contexto traz na sua comunicação. Dentre os caminhos, olhar para o tema com honestidade, ajudando a tirar o estigma dos problemas de saúde mental, considerando o contexto cultural brasileiro, parece ser uma saída.

A percepção do brasileiro sobre saúde mental

saúde mental

Com o mês de setembro, as pesquisas sobre o tema se espalham pelas redes e nos trazem importantes informações para refletir sobre o assunto.  

Além do aumento no número de suicídios no Brasil em 43% (2010-2019), as queixas envolvendo qualidade do sono, distúrbios alimentares e ansiedade fazem parte da vida de um terço dos brasileiros, segundo o Datafolha (2023). Por outro lado, 70% das pessoas considera que sua saúde mental está boa.

Outro dado em descompasso é a relação entre as pessoas que buscam a terapia e as que mais sofrem com sintomas de cansaço mental. As classes que mais sofrem com insônia, por exemplo, são a D e E (37%). Enquanto isso, a maior parte das pessoas que buscam terapia são as classes mais abastadas, que ganham mais de 10 salários mínimos.

Então, o primeiro passo para promover uma campanha eficiente é pensar em quem precisa ouvir sobre saúde mental e qual a melhor forma de atingir essa audiência. Nesse contexto, ainda existe a divisão de gênero, já que mulheres apresentam mais disfunções ligadas à saúde mental. 

A campanha abaixo foi feita pela produtora de vídeos independente, Thoraya Maronesy. Por meio de histórias reais, os vídeos pretendem humanizar pequenas dores cotidianas e normalizar questionamentos sobre elas. A campanha trabalha na percepção sobre aspectos corriqueiros da saúde mental e abre espaço para empatia.

Saúde mental vs redes sociais: o desafio da Gen Z e Millennials

saúde mental e redes sociais

Quando o assunto é a Gen Z e Millennials (Gen Y) os números podem ser ainda mais alarmantes. Segundo os dados compartilhados no podcast Café da Manhã, 28% das pessoas que buscam ajuda psicológica são Millennials(2023). Já para Gen Z, dados de 2019 já apontavam que a segunda causa de morte da geração era o suicídio, com um aumento de 56% entre 2007-2017.

Ambas as gerações viveram uma pandemia em fases decisivas de suas vidas, início da juventude para Gen Z e ascensão da carreira para Gen Y e pode ter influenciado no cenário. Segundo uma a pesquisa feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em 2020, divulgada pela Forbes, após o início da quarentena os casos de estresse agudo subiram 40% e os de depressão praticamente dobraram, saindo de 4% para 8%.

Além disso, especialistas sugerem que a relação intensa com as redes sociais pode ser um dos pilares para os números preocupantes, já que as duas gerações têm tem o mundo digital como extensão da vida real.

Segundo o estudo do Datafolha Saúde Mental dos Brasileiros 2022, 38% dos brasileiros temem o julgamento ao postarem um conteúdo nas redes sociais. Em um recorte de idade entre jovens de 16 – 24 anos, o número aumenta para 43%. Além disso, 65% se sentem insatisfeitos com as próprias vidas ao se comparar com a ilusão de felicidade e sucesso que as redes projetam.

A publicidade sobre saúde mental

saúde mental e redes sociais

Sabendo do cenário desafiador envolvendo as redes, as marcas precisam considerar esse meio como uma ferramenta para incentivar o debate saudável. Dados da consultoria YPulse, por exemplo, afirmam que 71% da Geração Z considera positivo marcas incorporarem temas de saúde mental no marketing.

Portanto, profissionais de marketing precisam entender a linha tênue para promover o equilíbrio nas redes entre ser apenas um canal de publicidade e entretenimento. Assim, se tornando também um meio que compartilhe conhecimento, produzindo anúncios sensíveis às pautas relacionadas à saúde mental.

Em 2022, a Nike, lançou o In My Feels Air Max 270s. Os modelos, no valor de $180,00, foram projetados pelo terapeuta Liz Beecroft e se esgotaram em menos de 48 horas. Além disso, parte do valor foi direcionado para fundos para American Foundation for Suicide Prevention.

marketing nike e saúde mental

O case de mercado mais bem-sucedido quando o assunto é saúde mental é a postura da Dove. Há anos a empresa aborda por diversos olhares e subtemas envolvendo aceitação, autoestima e quebra de padrões, incentivando reflexões sobre cuidados com a saúde metal. As campanhas emocionantes com histórias reais já são uma marca registrada da Dove.

Seja como for, o tema precisa fugir do oportunismo e da abordagem rasa. Em agosto deste ano, uma propaganda envolvendo a socialite Narcisa usou o termo “aditivada” com duplo sentido, fazendo referência ao seu passado envolvendo abuso de álcool. A abordagem em tom de humor não caiu bem, banalizou um tema sério que prejudica 18% das famílias brasileiras.

A campanha correta começa dentro da empresa

marketing e saúde mental

Quando as marcas abordam temas relacionados a saúde mental, a primeira preocupação deve ser olhar para o próprio umbigo com honestidade. Antes de tudo, isso inclui estudar como os funcionários se sentem em relação ao tema. Desta forma, as chances de dissonância entre o que se fala e o que se faz são menores.

Essa incoerência aconteceu com a empresa Vodafone em sua campanha de Natal do ano passado. Usando a #PartilhaOQueEstásASentir a empresa recebeu um retweet  de um ex funcionário demitido após compartilhar que estava passando por problemas de saúde mental.

Já a Apple tem ganhado destaque nesse meio por aderir a práticas simples em prol da saúde mental dos funcionários. Segundo o portal Inc a estratégia da Apple envolve recompensar o trabalho duro com liberdade ao invés de dinheiro ou mais responsabilidade. Assim, eles priorizam a flexibilidade, apostando na confiança e capacidade do time para construir uma cultura de trabalho positiva, sem necessidade de supervisão constante.

Arte, cultura e um pouco de realidade

poder da arte para saúde mental

Nesse contexto de mudança, o acesso à cultura tem sido a aposta para melhorar a saúde mental das pessoas na Europa. Baseado no fato de o entretenimento ser inerente à natureza humana, o “Culture for Health” busca proporcionar alegria, escapismo e positividade, contribuindo para a saúde mental e o bem-estar geral.

Seja através da arte, da terapia ou até mesmo o consumo, alimentar nossa alma em busca de paz para os nossos pensamentos deve ser uma busca intencional em nossa rotina. Porém, na frente de tudo isso, especialistas e filósofos alertam para a importância de considerar a subjetividade da existência humana como caminho para normalização de algumas dores.

A psicanalista, Vera Iaconelli, colunista da folha de São Paulo, disse ao podcast Café da Manhã que as pessoas precisam “reconhecer que viver nunca foi fácil para ninguém e que não tem problema nenhum a gente sofrer, sofrer faz parte da existência”. 

Portanto, é necessário apoiarmos conexões reais ao nos encontrarmos em situações desafiadoras e contar com o coletivo para ajudar nossas angústias. Esse é o primeiro passo para ter uma expectativa real sobre saúde mental.

Beijos da Be.

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