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Como a inteligência artificial beneficia a arte independente

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Entre polêmicas e uma discussão com diversas camadas, a inteligência artificial chega no mercado audiovisual se mostrando como uma opção para arte independente.

Segundo dados da Ancine, 84,96% das produções de documentários, filmes e curtas entre 2013 e 2020 foram independentes. Ou seja, não contaram com financiamento de editais do governo ou de iniciativas internacionais. Esse cenário leva muitos artistas a encararem suas produções como um hobbie e se posicionarem no mercado como artistas independentes. Assim, seja por falta de espaço para usufruir de um financiamento robusto, ou por prezar pela liberdade de expressão, é na arte independente que encontramos produções com personalidade singular, que expressam a alma do artista e não são necessariamente feitas para o mainstream. Mas, a popularização dos aplicativos de produção de inteligência artificial parece trazer um novo horizonte para a arte independente.

Quem está a frente desse modelo criativo participa desde a ideia inicial, passando pela gestão administrativa até a divulgação, o que faz do artista independente parte fundamental da comunidade criativa, representando um grupo que pensa a arte como meio para expressão livre e de crítica social. Para o cenário artístico, contar com pessoas que valorizam a liberdade de possuir o controle do próprio trabalho, alimenta o mundo com ideias inovadoras, disruptivas e não convencionais. 

Agora, com a Inteligência Artificial, esses artistas vislumbram uma realidade em que sua arte terá ferramentas capazes de os tirar do lugar de coadjuvante e possibilitar que suas produções ocupem o lugar de protagonista em seu ambiente de trabalho. No SXSW presenciamos diversos artistas e palestrantes que mergulharam nas possibilidades de cocriação impulsionadas pela IA e compartilharam suas experiências como artistas independentes na era da Inteligência artificial.

Aplicativos agenciadores 

Quem está em busca de audiência sabe que, antes de encontrar o público, o desafio é chegar até quem será responsável por fazer essa conexão. Pensando nisso, Laura Simpson, CEO da Side Door, criou uma plataforma online que facilita a conexão entre artistas e anfitriões, agendando e vendendo ingressos para shows. O empreendimento para impulsionar o mercado independente de música atua fazendo o meio de campo entre artistas independentes, fornecendo oportunidades de shows em locais alternativos.

A proposta disruptiva, foge do modelo tradicional de turnês em clubes para proporcionar experiências memoráveis em locais como, salas de estar, quintais e escritórios, favorecendo conexões mais íntimas entre artistas e fãs.

Laura esteve no SXSW 2024 no painel What Are Indie Artists Taking Home? (O que artistas independentes estão levando para casa?) e falou sobre os números que permitem que esses artistas tenham lucro e sucesso no mercado. Dentre os números e estatísticas, Laura apontou que um jeito de lucrar é explorar as interações virtuais como forma de monetizar as comunidades de fãs. Ela defende oferecer recompensas focando no significado do que está sendo entregue e considerando os fãs da sua cidade natal, é melhor do que um presente caro. Por isso, oferecer momentos que te coloquem mais próximo desses fãs, é uma forma de alimentar essas comunidades e arrecadar dinheiro. 

Artistas da web 3

Simultaneamente, essa ideia foi exaltada pelas artistas Grace Ng e Violetta Zironi na palestra New Business Models for the Creative Renaissance. Elas representam artistas que expandem sua criatividade com as ferramentas da inteligência artificial materializadas nas oportunidades do metaverso.

Segundo as artistas Grace e Violetta, lançar músicas, produzir clipes, e comercializar sua arte por meio de NFT e blockchain, dá autonomia para rotina criativa e liberdade de aumentar o lucro sem precisar se curvar aos moldes tradicionais do mercado, como lançar músicas com “dancinhas do tiktok” ou saindo em tours caríssimas. O blockchain permite uma interação personalizada com os fãs, comprando parte da obra de arte digital, criando um senso de pertencimento e investimento na comunidade. Além disso, é por meio do metaverso que elas conhecem sua comunidade de fãs permitindo uma individualização da identidade, reconhecendo padrões sobre diversidade, como da comunidade LGBTQIA+.

Produtores da Web 3 e o mundo dos games

Ainda dentro da Web 3, artistas e produtores audiovisuais apostam no espaço online do mundo dos games para impulsionar suas comunidades e seus conteúdos por meio de plataformas como Decentraland, Roblox e Fortnite. Ou seja, nesses espaços, a realidade virtual permite a esses artistas e criadores interagir com marcas e públicos, criando experiências únicas e imersivas.

Além disso, Grace Ng exalta o aplicativo Unity Game Engine que a ajuda a desenvolver jogos e possibilita a criação de mundos em 3D e experiências interativas para os usuários.

Audiovisual de baixo custo

IA e arte independente carolina massiere

Participando desde a criação de scripts até a recomendação personalizada de conteúdo para os espectadores, as ferramentas de IA estarão presentes no audiovisual do futuro e podem servir de reforço na hora de competir com grandes estúdios. É fato, a inteligência artificial (IA) promete sacudir a indústria do cinema com possibilidades diversas e democratização das ferramentas de produção. Não à toa, as negociações para resolução da última greve em Hollywood se alongaram tanto. Então, confira algumas possibilidades.

1. Produção de Conteúdo


1. Produção de Conteúdo
Já existem alguns programas exclusivos para geração automática de scripts. Além de ajudar a localizar temas relevantes para o seu negócio, essas ferramentas aceleraram o processo criativo e fornecem insights sobre as preferências do público. Boords é um deles que facilita desde a produção de texto até a organização de cortes e da história.

2. Edição de Vídeo

Alguns sistemas de IA agilizam as tarefas de edição de vídeo, como corte automático, estabilização de imagem, e seleção de melhores takes. Isso economiza tempo para os editores, permitindo que se concentrem em aspectos mais criativos. 

  • No invideo, você digita um comando, conforme um roteiro predeterminado e o programa executa o que foi solicitado;
  • O Monstart API combina tecnologias de IA e realidade virtual, para ajudar criadores, artistas e cineastas a contarem suas histórias de forma inovadora. Utilizando tecnologias como LoRA, o serviço acelera a aplicação de funções relacionadas a internet das coisas.

3. Animação e Efeitos Especiais

IA já pode ser usada para aprimorar a criação de animações e efeitos especiais. Isso inclui a geração automática de animações faciais realistas, simulações de movimentos naturais e a criação de ambientes virtuais mais convincentes. 

  • O YouCam Perfect gera personagens e avatares realistas conforme solicitações inseridas por você;
  • Sora foi o último lançamento da Open IA e continua gerando um burburinho no mercado. Ele cria vídeos realistas a partir de comandos de texto e compreende regras do mundo físico, o que aumenta a fidedignidade.

4. Restauração e Remasterização

Sabe aquele conteúdo antigo que precisa ser atualizado para formatos atuais e com maior qualidade? Algumas ferramentas baseadas em IA facilitam esse processo, melhorando a qualidade visual e sonora de filmes e programas clássicos, por exemplo. Topaz Video Enhance AI, tem essas funções em seu escopo e além de aumentar qualidade geral das imagens, reduz ruídos do áudio.

5. Tradução Automática

Para tornar o conteúdo audiovisual mais acessível globalmente, a IA pode ser empregada na tradução automática de legendas e dublagens, permitindo que o público internacional desfrute de uma ampla variedade de conteúdo. O Lipdub faz dublagem instantânea de um conteúdo em vídeo em 28 idiomas diferentes. Ele combina os movimentos dos lábios do falante com as palavras faladas do idioma escolhido, o resultado é uma sincronização perfeita entre áudio e imagem.

Da mesma forma, o uso desses recursos parte também dos grandes estúdios. A plataforma de streaming Hulu, propriedade da Disney, lançou a série portuguesa Vanda nos EUA, usando o software de inteligência artificial, Deepdub AI. Segundo a Veja, a dublagem foi 70% mais rápida do que o método convencional com humanos e ascendeu o debate sobre a substituição da mão de obra humanos pela IA no entretenimento, reivindicação principal durante a greve de Hollywood no ano passado. 

Duplass Brothers e o audiovisual independente

arte independente

Ainda que os desafios de investir na arte independente sejam grandes, as vantagens não só inspiram criadores, mas criam um mercado mais autêntico.  A Duplass Brothers Productions, uma produtora independente dos EUA, está mergulhando seu próximo projeto com produção e financiamento independente para preservar a visão criativa original, sem interferência de grandes plataformas de streaming que poderiam exigir alterações na história. A série “Penelope” estreou no Festival de Cinema de Sundance de 2024 e conta a trajetória de uma adolescente alienada que foge da civilização moderna para viver na natureza selvagem. 

Além de prazerosa, a liberdade criativa rende reconhecimento. Em Sundance, a série foi elogiada por sua autenticidade e perspectiva única, destacando a importância de histórias independentes. Propondo uma reflexão sobre conexões humanas genuínas em um mundo cada vez mais tecnológico em que a intimidade artificial ganha espaço. Um tema que ganha espaço e se mostra cada vez mais necessário, provando que a liberdade criativa pode impulsionar o cenário televisivo atual com produções que conversam com as dores humanas.

Uma das estratégias da Duplass, reconhecida por toda comunidade indie é o financiamento coletivo. Em 2017, a produtora lançou o programa “Hometown Heroes”, em parceria com a plataforma de financiamento coletivo Seed&Spark para descobrir e apoiar novos talentos cinematográficos em todo o país. O financiamento coletivo arrecadou mais de $860,000 em 30 dias e teve a participação de 73 filmes. Desses, os dois escolhidos foram “The MisEducation of Bindu” (de Indianapolis, IN) e “Drought” (de Wilmington, NC), cada um recebeu $25.000,00.

Em 2023, a Duplass Brothers Productions chamou atenção com a produção de “Biosphere”, um filme de ficção científica, escrito por Mark Duplass e Mel Eslyn. A narrativa explora em tom de comédia como, após o fim do mundo, os dois últimos homens que sobraram na terra farão para salvar o planeta. Além disso, a produção, com apenas dois protagonistas, é um exemplo de como executar um projeto com baixo custo.

O apoio organizado e a união comunitária

Seja para os artistas da Web 3 ou produtores que tentam furar a bolha dos grandes estúdios, a inteligência artificial (IA) pode ser protagonista para reduzir o custo final das produções, é o caso da série “Vanda” mencionada acima. Além disso, ampliar a conexão com as comunidades, afinal, são elas, por meio de financiamento coletivo ou comercialização de experiências, que entregam oportunidades para monetização. Simultaneamente, ainda temos as vantagens em relação a aspectos que vão além da criação e ainda assim essenciais para uma produção de sucesso, como a personalização de conteúdo, análise de dados e do público-alvo. Tudo isso, resulta em uma experiência mais dinâmica e relevante para o espectador, o norte de qualquer projeto.

Contudo, é preciso estar atento que a sobrevivência da arte independente é garantida por meio de uma combinação de criatividade humana, apoio do governo e da comunidade. Assim, a inteligência artificial soma a inspiração e ao esforço humano ao entregar facilidades técnicas, que antes necessitariam de uma equipe robusta para conclusão. Nesse caminho, artistas contam primeiro com a liberdade criativa, aspecto principal da indie art, e essencial para conquistar o apoio público. Assim, em seguida é possível olhar e se apropriar da IA como uma saída para os desafios financeiros, principalmente.

Beijos da Be.

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