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2024: Será o fim das redes sociais como conhecemos?

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Uma “fadiga digital” anuncia o fim das redes sociais. Para refletir o fenômeno, exploramos insights, tendências e possíveis alternativas, como o ressurgimento de espaços físicos e a valorização de momentos presenciais.

As redes sociais ajudaram a moldar a personalidade da geração Y e a partir de 1996, influenciaram radicalmente o comportamento de uma geração inteira com a evolução tecnológica. Para os primeiros millennials, até aquele momento, era possível não ser encontrado. Eles sabiam desfrutar do tédio de não ter uma tela para se distrair. Era possível “pagar mico” para um grupo restrito de pessoas sem se preocupar com a possibilidade de virar meme. Tudo mundou com a ascenção do mundo digital e nos últimos meses, os rumores sobre o fim das redes sociais como conhecemos nos trás questionamentos. Assim, tentaremos vislumbrar que caminho é esse que se anuncia e de que forma impactará nosso comportamento.

Como chegamos até aqui?

Com a popularização da internet, o fim das horas no telefone deu lugar ao “Uh, oh” do ICQ Chat. Agora, não era mais preciso ficar grudado no rádio aguardando tocar aquela música que não saia da sua cabeça para apertar o rec, bastava saber o título e artista e baixá-la no Napster. Aliás, até “queimar” um CD com a sua playlist na internet discada era uma experiência vivida em comunidade, assim como participar dos fóruns nichados, onde ninguém te achava estranho. Com a chegada do Orkut, passamos a criar perfis para nos apresentarmos e fazer parte da rede com as comunidades mais irreverentes que a internet foi capaz de criar. 

Parte da adolescência e infância dos millennials conheceu a época de ouro da internet que era muito mais sobre bolhas fechadas do que excesso de exposição. Luxo mesmo era ser convidado e conseguir o acesso para encontrar seus similares em “guetos” digitais. Mas em 2023 o cenário é outro e parece que a festa acabou para muitos de nós, que mesmo com um mundo digital diferente daquele do início ainda prouramos pertencimento em nossas interações.

Uma pesquisa realizada pela GWI, empresa britânica de consultoria digital, revelou que o tempo médio diário gasto nas redes sociais diminuiu quase 5% globalmente de 2021 para 2022. Ocorre, que a redução pode ser uma compensação do aumento do seu uso, durante Pandemia da Covid-19. Esse cenário, também acarretou um excesso de ansiedade expressivo e uma insatisfação generalizada com o que estamos testemunhando digitalmente. Nesse “novo normal”, a noção de que nossa vida digital é tão nociva quanto a pandemia preocupa gerações.

Sua tela, uma vitrine

fim das redes sociais mídias sociais

Zizi Papacharissi, pesquisadora especialista no assunto da universidade de Illinois, Chicago, disse ao canal da DW Brasil que essa “fadiga digital” é real. Segundo ela, isso é resultado da desinformação, dos perigos do uso indevido de dados e a consequente perda de credibilidade causada pela ascensão das fake news. 

Nosso feed hoje é uma representação do mundo que escolhemos mostrar  e é aí que mora o dilema. Ele não mais nos representa. Um dos fatores determinantes nessa transformação é o quanto as redes tem deixado de ser “social” e passaram oferecer um serviço de mídias de entretenimento, publicidade e vidas plásticas.

Simultaneamente, dados de mercado apontam para um cenário não muito promissor. A Meta, por exemplo, vem perdendo valor de mercado e tendo dificuldade de adaptar plataformas como o Facebook , para um novo modelo de vida. Segundo dados da consultoria de marketing Insider Intelligence, o número de novos usuários parou de subir em 2022 e as previsões apontam uma queda para 2023.

Low profile

fim das redes sociais low profile

Prova disso, é o crescimento de histórias de pessoas que largaram as redes sociais. Segundo uma reportagem do Washington Post, conhecidos como “Low Profile”, esse público percebeu uma relação de dependência e vício com as redes. Além disso, os crescentes sintomas de ansiedade, tristeza e depressão desencadeados por comparação excessiva e julgamento incessante, somado ao gasto indevido de tempo, foram aspectos que encorparam o movimento de exodo das redes para viver “o mundo real”. 

Isso pode ser resultado de alguns fatores. Primeiro, todos já sabemos o papel dos algoritmos decidindo nossos desejos, aspirações e nos expondo a conteúdos que já identificamos como indesejáveis. O que aumenta essa sensação de descontrole e canseira. Somado a isso, o declínio na experiência do usuário, com a proliferação de discurso de ódio, desinformação, assinaturas pagas e a ameaça da inteligência artificial generativa, indicam que será necessário um espaço mais seguro para interação com nossos amigos.

Mas, ainda que 64% das pessoas assuma o impacto negativo das plataformas em suas vidas, 72% mantém pelo menos uma rede social. E está tudo bem. Na reportagem do Washington Post, o chefe de ciência da sociedade americana de psicologia, Mitch Prinsten, defende que para muitos a rede social é benéfica. É o caso de asolescentes, os quais as redes auxiliam na sociabilidade enquanto eles fazem amigos, por exemplo. Ou seja, equilibrar o uso conforme autoconhecimento, mapeando de onde vem os malefícios, parece ser o caminho. 

E para onde vão os rebeldes?

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É nesse emaranhado de sentimentos que segundo um levantamento da Hootsuit, 56% dos consumidores acham que marcas deveriam ser mais verdadeiras nas redes sociais e isso aumentaria a facilidade de identificação com os conteúdos e a confiabilidade. A tendência, que começa na Gen Z, se espalha para os millennials e prevê um envolvimento mais lento e consciente com conteúdo. Favorecendo blogs e canais do Youtube, por exemplo.

1. A intencionalidade do Youtube

O Youtube tem se mostrado uma das redes mais promissoras. Em meio às baixas , a plataforma segue mantendo sua relevância na medida que permite ao usuário mais autonomia na navegação. A equipe Google compartilhou uma análise sobre o comportamento proposital dos usuários no YT quando acessam a plataforma. Portando, esse relacionamento ativo com a rede, empodera o usuário e aumenta o nível de satisfação com a rede.

2. Instagram

Ainda que exista um sentimento coletivo de “saco cheio”, os executivos da plataforma estão atentos às mudanças. Em uma entrevista, Adam Mosseri, head do Instagram, disse que os “usuários comuns” priorizam mensagens diretas para se relacionar, incluindo close friends. Já as postagens são mais comuns para marcas, influenciadores e criadores de conteúdo. Corroborando a ideia de que a rede está se tornado uma vitrine.

Nesse sentido, novas funcionalidades permitem que o usuário segmente os amigos e faça um feed específico para cada um deles. Além de aumentar a intencionalidade, possibilitando que o usuário sinalize o que não deseja ver no feed. Afinal, se você se manter vendo conteúdo que não ressoa com você, você provavelmente vai sair da rede.

3. O mundo das mensagens

Do ICQ, MSN até o Whatsapp e Telegram, a rede social que parece não morrer é a de mensagens diretas. O usuário do whatsapp passa em média 38 minutos por dia no aplicativo e o app está em primeiro lugar no mundo em sua categoria. O diferencial é oferecer mais segurança em relação à exposição da vida do usuário, maior controle de sociabilização e uma experiência mais próxima entre os usuários.

Além disso, recentemente o Whatsapp lançou uma iniciativa para que seus usuários compartilhem suas histórias com a comunidade. Em formato de fotos e documentários, a iniciativa reforça o storytelling da empresa de conectar o mundo e fortalece o branding da marca.

As comunidades voltam para seus guetos reais

fim das redes sociais de volta pro futuro

 E nesse mar de mídias, existem sinais apontando que como consequência da fadiga digital , não será mais tão simples nos agradar digitalmente. Agora, percebemos o valor e o encantamento único dos momentos presenciais em comunidade, a nostalgia tomou conta da nossa linguagem (na moda, na arte, na estética) e não queremos mais substituir nossa antiga maneira de socializar. Assim, começamos a perceber iniciativas que emergem na tentativa de suprir essa carência millennial de encontros e sociabilização.

1. Livrarias

O mercado dos livros físicos é comumente visto como desafiador. Nos últimos anos, a Fnac saiu do Brasil, a Saraiva fechou todas as lojas. Porém, existe uma movimentação que parece estar contracorrente. Segundo reportagem do Money Times ao menos 10 livrarias de rua foram inauguradas em São Paulo pós-pandemia.

Esses empreendimentos chegam no mercado com um novo conceito. Não mais como grandes lojas de departamentos, como acontecia com grandes livrarias de shopping, as livrarias pós-pandemia apresentam espaços pequenos e aconchegantes, cheios de personalidade e prontos para promover encontros e exaltar a comunidade literária e artística. Além disso, as rodas de debate e o envolvimento com justiça social imprimem a nova personalidade das livrarias.

2. Cinemas

Netflix House é o anúncio do ano da Netflix. A gigante dos streamings anunciou que pretende abrir espaços para encontro da comunidade em 2025. As lojas físicas terão refeitório e experiências para que os assinantes se conectem e partilhem o consumo de suas produções favoritas. A novidade chega nos EUA primeiro, mas demonstra um movimento de valorização das comunidades e ampliação das ações que valorizam a conexão das pessoas no mundo real.

3. Videolocadoras

Respaldando a necessidade de momentos de interação únicos entre pessoas, as videolocadoras também podem reaparecer no mercado com um conceito repaginado. A cineasta Aubrey Plaza, reviveu o logotipo da Vidiots, uma antiga videolocadora de Santa Monica (CA) fechada em 2017. O projeto busca resgatar a experiência social e comunitária das videolocadoras, oferecendo um espaço com cinema, locadora de vídeos, bar e auditório. A iniciativa recebeu apoio da comunidade local, expressando a importância de conexões reais e a falta de oportunidades para encontros autênticos. Ou seja, pequenos espaços, como esses, abraçam e valorizam momentos presenciais e exaltam sentimentos proporcionados pela vida analógica.

O que mais sentimos falta é do espírito de uma geração

alanis morissette

A volta dos shows que marcaram a juventude dos millennials também é um acontecimento para geração. Recentemente a cantora Alanis Morissette fez um rebuliço com a sua turnê para nos lembrar valores que não cabem em uma tela.

Em seu último show para os fãs brasileiros em São Paulo, Alanis foi aclamada pela imprensa como millennial justamente pela rebeldia impressa em sua performance. Ao iniciar o show com “All I Really Want”,  faixa número 1 do álbum “Jagged Little Pill”, uma preciosidade do rock alternativo de 1995 que já trazia temas como depressão, abusos e relacionamentos falidos, a cantora canadense exaltou a intensidade de suas letras, que ressoam com uma geração que cantou essas dores aos berros até “riscar” o CD.

2024: Será o fim das redes sociais como conhecemos??

fim das redes sociais

Se 2024 será um ano marcado pela mudança do comportamento digital e o fim das redes sociais ainda não podemos afirmar. Contudo, o mais provável é uma transformação da própria rede, ao invés do seu fim. Existem especialistas que apostam que o futuro das platafroams será a meta realidade, onde vamos reunir a sensação de cantar nossas dores em shows, dentro dos nossos quartos, por exemplo. 

Então, o que percebemos, é a dor de uma incoerência humana. Ainda que estejamos buscamos pela perfeição, facilidade, rapidez e por uma história bonita ou engraçada para nos encantar, há um desejo enorme pela identificação, pela verdade, pelo que é real e genuíno.  Assim, a redução do protagonismo de algumas plataformas não decreta a decadência das redes sociais. Mas escancara a nossa insistência em querer mascarar a vida para não lidarmos com a realidade. Por isso, a exaustão de assistir tantas mentiras online.

“Deus morreu”, já dizia Nietzsche , mas para as redes não morrerem também, é preciso que elas encontrem uma inteligência menos artificial, plástica e calculada nas narrativas que encontramos por ali. Aqui na Be., acreditamos que somos todos storytellers o que siginifca que esse novo protagonista deverá considerar as imperfeições orgânicas que formam um ecossistema real na hora de contar a história. Afinal, é no orgânico que moram as surpresas, os acasos, os “milagres” e irregularidades que nenhuma tecnologia ainda foi capaz de reproduzir ou prever. 

Não há nada na experiência humana que conecta mais do que nos depararmos com a imprevisibilidade da vida. Assim, talvez aprender a lidar com ela no mundo digital signifique encontrar maneiras mais verdadeiras de controlar algoritmos e de contar histórias que gerem identificação e aspiração nos usuários. 

Beijos da Be

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