Storytellers olham para os erros e desafios com gentileza e foco na superação e não em criticismo. Isso ajuda a criar uma narrativa inspiradora.
Não é novidade para ninguém que a arte de contar histórias nos acompanha desde o início da expansão da espécie humana. Além dos benefícios para a sobrevivência do Homo sapiens, contar boas histórias é também uma forma de ressignificar experiências. Essa é a base da psicanálise, por exemplo, que por meio da fala, ressignifica sentimentos e traumas para uma melhor assimilação e transformação das ações futuras do indivíduo.
No post dessa semana vamos explorar esse fenômeno e a importância dele hoje em nossa comunicação.
Construa seu próprio storytelling
Em 1994, Joe Lambert, Dana Atchley e Nina Mullen, artistas e profissionais de comunicação de São Francisco (CA), se uniram para explorar como as mídias digitais poderiam ser usadas como ferramentas para empoderar histórias pessoais dos membros da sua comunidade. E assim criaram o workshop comunitário, “Digital Storytelling”, com o objetivo de dar voz a histórias de traumas, através do storytelling e da expressão artística, tornando-as poderosas ferramentas de cura e esperança no meio de conflitos sociais e políticos.
Vinte anos depois da “descoberta” do poder do storytelling, os benefícios da ferramenta se espalharam por diversas áreas como marketing, branding e audiovisual e ajudam marcas e pessoas a se conectarem emocionalmente com o público.
Acompanhe na sequência como desenvolver sua narrativa fazendo escolhas que colaboram para entender a sua evolução pessoal e encontrar a sua autenticidade nas entrelinhas da sua história.
1. Você não é todo mundo, é isso que te faz único
A frase ouvida pelas crianças mundo afora para justificar o “não” é também um insight poderoso para construir o diferencial do seu storytelling. Talvez, aquele conceito ou ideia que te impossibilita de fazer algo, seja exatamente o que te colocará à frente do seu concorrente.
Quando olhar para sua história, pense nos seus talentos naturais, lembrando as brincadeiras que você mais gostava quando criança, por exemplo. A partir disso, perceba como esses interesses se desdobraram durante sua vida e direcionaram as escolhas que fez, desde trabalho, livros, cursos, lugares que visitou até músicas que ouviu. Na construção do seu storytelling como marca, tudo estará amarrado com um motivo subjetivo.
Tenha clareza de quem você é, identifique o que te diferenciava dos grupos na infância e adolescência, características que você se orgulhava ou que eram motivo de angústia. Quais foram as qualidades que usou para enfrentar as adversidades da vida?
Perceba o que há em comum em cada experiência vivida, os padrões dos erros e os aprendizados. Os acontecimentos podem ser similares aos de outras pessoas, mas como você compreende e direciona o caminho é único para você.
2. Peça ajuda aos amigos
Sabe quando seu amigo lembra daquela história que vocês passaram juntos? Então, algo que marcou seu amigo diz muito sobre a percepção que as pessoas têm sobre você. Perceba nas lembranças de amigos padrões sobre o que você representa para as pessoas. Além disso, seja intencional nessa busca. Pergunte para as pessoas próximas quais são as características que te representam e relembre os bordões e frases que marcaram seus aprendizados.
3. Escolha referências
Seja por meio de um moodboard, reunindo ideias em um papel ou um brainstorm, escolha os elementos que te representam em cada fase da sua vida. Analise os que ainda fazem sentido, conforme o seu tom de voz atual, eles poderão ser usados como fio condutor da sua história. Nesse sentido, busque por palavras, ícones, verbos, adjetivos e pessoas que representam as fases da sua vida. Ao usar personalidades conhecidas, por exemplo, você favorece elementos da sua história que te posicionam com mais autenticidade, facilitando a assimilação por meio da conexão emocional com o público.
Utilizando o storytelling como uma mulher
Uma característica fundamental para ser uma storytellers de poder, é abusar da emoção. Nesse sentido, resultado de construções sociais, culturais, mas também diversidade genética, mulheres se destacam por qualidades diferentes quando ocupam cargos de liderança, sendo a conexão emocional uma característica coringa na rotina como empreendedora. Prova do sucesso feminino nos negócios é o crescimento do número de mulheres empreendedoras no Brasil, que atingiu 34% em 2023, segundo reportagem do G1.
Contrariando disparidades de gênero, limitações sociais e fugindo de rótulos que pretendem reduzir as possibilidades de atuação feminina no mercado, é possível observar como a construção de um storytelling fundamentado em emoção apoia marcas femininas. Confira nos exemplos a seguir como isso acontece:
1. Elas levam o público para outro mundo
As pessoas esquecem do que você diz, mas nunca de como você as fez sentir. Nesse sentido, a empatia e sensibilidade aguçada das mulheres as coloca um passo à frente quando é necessário pensar em novos caminhos e conquistas pela emoção. Assim, ao usar o storytelling para vender, empreendedoras conduzem o cliente do problema a solução. Nesse caminho, ele encontrará no seu serviço como resolver suas dores e a inspiração que precisa para transformar os dilemas que estão enfrentando.
O storytelling da marca de cosméticos Mary Kay materializa o poder que existe em investir na condução do consumidor para um universo de possibilidades. Nesse caso, a marca envolve mulheres mostrando os caminhos de transformação pessoal abertos pelo empreendedorismo e pela união em comunidade. O famoso programa de incentivo do Cadillac rosa para as melhores consultoras é um símbolo dessa comunidade.
“Não se limite. Muitas pessoas se limitam ao que elas acham que podem fazer. Você pode ir tão longe quanto sua mente permitir. O que você acredita, lembre-se, você pode alcançar.” – Mary Kay Ash (Empresária norte-americana e fundadora da Mary Kay Cosmetics)
2. Elas compartilham aprendizado
Compartilhar aprendizados por meio da sua história é uma forma de criar identificação com o seu público e relações mais afetivas. Nesse sentido, as histórias que você viveu demonstram autoridade através da sua experiência de vida. Os erros, especialmente, humanizam sua marca e inspiram outras pessoas a não pararem no primeiro obstáculo, além de desmistificar os caminhos fáceis que levam a grandes conquistas.
O Grupo Mulheres do Brasil liderado por CEOs de grandes empresas brasileiras como Luiza Helena Trajano do Magazine Luiza e Sônia Hess da Dudalina apoia formalmente o compartilhamento de experiências entre mulheres para impulsionar o empreendedorismo feminino. Por meio de reuniões e encontros por todo o Brasil, a iniciativa escolhe lideranças locais para promoção de debates, eventos e mobilização junto ao governo.
“Nós temos de nos forçar a aprender o tempo todo. Temos dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos mais do que falamos. Não se aprende sem ouvir.”
(Empresária brasileira, vice-presidente do Grupo de Mulheres do Brasil e ex-presidente da Dudalina.)
3. Elas trocam de roteiro quando necessário
A adaptação de mulheres conforme condições sociais durante a história as fez resilientes e, ao mesmo tempo, flexíveis. Assim, encontrar o melhor roteiro para sua história, muitas vezes inclui escolher novos caminhos conforme os acontecimentos que mais favorecem sua história. Por isso, não tenha medo de refazer os rumos da sua história e adaptar sua narrativa para contar vitórias.
Maya Angelou, por exemplo, mais conhecida como escritora e poetisa, antes de ser considerada a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood, foi atriz, cantora, bailarina, cozinheira, condutora de bondes e até prostituta. E foi ao superar um abuso sexual, que vislumbrou um caminho para encontrar sua voz e lutar pelas pautas que acreditava. Se destacou na luta do movimento negro dos anos 60 nos EUA e seguiu se transformando ao longo dos anos até seu falecimento em maio de 2014.
“Você pode não controlar os eventos que acontecem com você, mas você pode decidir não se rebaixar por eles.” – Maya Angelou (Escritora e poetisa norte-americana, foi a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood)
- Leia também: 5 dicas para criar uma narrativa de sucesso
Oprah Winfrey: o storytelling dos sonhos
Antes de ser reconhecida como uma das principais apresentadoras da televisão mundial, Oprah precisou enfrentar inúmeras adversidades até vislumbrar o olhar de adoração que recebe do seu público.
Descendente de afroamericanos, Oprah nasceu no Mississippi, um dos estados considerados mais racistas dos EUA, e foi criada pela avó com quem viveu até os 6 anos. Além dos desafios financeiros, durante a infância foi abusada por seu tio e primos, o que a motivou a fugir de casa aos 13 anos. Um ano depois, perdeu um filho que nasceu prematuro.
Mesmo com esse cenário desafiador, aos 17 anos, um olhar de reconhecimento foi suficiente para virar o jogo. Após vencer um concurso de beleza, Oprah decidiu que gostaria de trabalhar na televisão. Superou a extrema pobreza e com uma bolsa de estudos se formou em comunicação. Após a graduação, estreou no seu primeiro programa de TV, com 8 anos de duração.
“ A maior aventura que você pode realizar é viver a vida dos seus sonhos” – Oprah Winfrey
Oprah diz que as escolhas feitas no decorrer de sua história são fundamentadas na fé, acreditar que mesmo que existam coisas e situações maiores do que você, sempre algo melhor te encontrará no próximo capítulo.
Objetiva nas palavras, Oprah olha para as dificuldades com realismo sensível de quem olha para cada dia ruim como parte de um caminho que precisa ser desbravado para florescer o que há de melhor em você. Não à toa, o The Oprah Winfrey Show, talk show que ficou no ar por 25 anos, trouxe o reconhecimento mundial do talento lapidado por muitas superações.
Não é mágica que nos leva para outro mundo, é o storytelling
Assim, ser storyteller é a atitude de compartilhar histórias que sejam comuns a todos nós, o que pode parecer banal num primeiro momento. A nossa provocação aqui é que você passe a ter mais intencionalidade ao contar suas peripécias, modulando seu olhar, escolhendo o foco e a lente certa para compor o storytelling que você merece.
Beijos da Be