Com a Inteligência Artificial em ascensão, investir na educação infantil, desenvolvendo conexões emocionais sólidas, é o caminho para equilibrar o uso da tecnologia em tempos de IA. A inteligência emocional será a base ética para o futuro próspero das crianças.
A educação infantil é um assunto sensível em qualquer sociedade e está diretamente ligada ao índice de desenvolvimento humano (IDH) de uma nação. O economista americano James Heckman, publicou um estudo provando que o investimento na primeira infância (0 – 6 anos) retorna até 7 vezes o valor para sociedade. Com tamanha relevância do tema, refletir como otimizar a educação infantil em tempos de IA é um dever de toda a sociedade e começa em casa.
Um estudo do Serviço Social da Indústria (SESI) apontou que até 2030, 50% das escolas públicas do país usará tecnologias de IA. Nesse contexto, otimizar tarefas e mapear habilidades e necessidades específicas de cada aluno, são campos promissores quando falamos em utilizar a Inteligência Artificial para melhorar o sistema educacional. Já os desafios acompanham as preocupações gerais com sociabilidade e falta da conexão emocional, além das deficiências em relação à igualdade de acesso. Por isso, quanto antes iniciarmos um debate genuíno com as crianças sobre o uso ético da tecnologia, maiores as chances de usá-la de forma coerente.
Educação emocional é a base
A professora e filósofa Lúcia Helena Galvão, pontua que a filosofia compartilha alguns ensinamentos preciosos para criação dos filhos. Ela os resume argumentando que os filhos precisam admirar pai e mãe. Afinal, crianças e adolescentes tem uma carência maior por heróis e se eles não têm em casa, podem encontrar uma imagem deturpada fora. Acima de tudo, essa admiração deve se basear em coerência, integridade e nível de sabedoria.
Nesse sentido, a educação emocional é a ferramenta principal para criar essa conexão com os pequenos. O primeiro passo, segundo o pediatra Daniel Becker é incentivar a criança a identificar e nomear suas emoções. Para isso é necessário um diálogo sincero onde sentimentos “ruins” como a raiva, inveja ou frustração, também tenham espaço para serem identificados e esclarecidos ao invés de negados ou “floreados”.
Outra forma de fazer a criança refletir sobre os próprios sentimentos é por meio das perguntas. Responder às crianças indagando os “porquês” de suas atitudes ou os “comos” as coisas acontecem, é a melhor forma de entender como elas sentem a vida e o que estão preparadas para ouvir. Além disso, ouvir a criança primeiro, ao invés de chegar com respostas prontas, a empodera emocionalmente, tornando-a capaz de produzir um pensamento próprio a respeito das nuances humanas.
Educação emocional nas escolas
Depois da família, o próximo lugar que deve prezar pelo ensino emocional para as crianças é a escola. Desde 2020, com a implantação do Novo Ensino Médio, conceitos como inteligência emocional foram incluídos no currículo escolar. Esses conhecimentos preveem que os alunos possam reconhecer, nomear e transformar sentimentos, principalmente em um cenário de hiper estimulação, como nas redes sociais.
Acompanhando as mudanças, a disponibilização de psicoterapias nas escolas também é um tema em alta. No Brasil, 96% dos pais gostariam que os filhos tivessem acesso a acompanhamento psicológico nas escolas, segundo reportagem da CNN.
Quem também está levantando essa bandeira é a cantora Selena Gomez. Ela foi convidada para participar do fórum sobre Saúde Mental na Casa Branca. Na ocasião, aproveitou para apresentar ao presidente Joe Biden o projeto Rare Impact Fund. A instituição defende a educação emocional para as escolas por meio da terapia comportamental. O Modelo de tratamento foi o escolhido pela cantora para tratar a sua condição emocional relacionada ao transtorno de bipolaridade.
Aqui no Brasil, as iniciativas voltadas para ampliar o acesso à saúde mental para crianças também avançam. O projeto “Adote um Estudante” da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Joaquim Bastos Gonçalves na cidade de Carnaubal no Ceará é um destaque. A iniciativa oferece aos alunos ajuda voluntária de psicólogos de todo o Brasil. O reconhecimento foi tamanho que a escola está entre as três finalistas de suas categorias para o World’s Best School Prizes (Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2023). Em apenas 18 meses, ouve uma queda de 67% no número de estudantes que necessitam de apoio social e emocional.
Inteligência artificial e educação emocional
Nesse sentindo, entendemos que educação infantil em tempos de IA também é cuidar da saúde mental. Isso por que, uma inteligência emocional fortalecida ajuda no controle da dependência e na capacidade de reconhecer e lidar com riscos emocionais nas redes.
O podcast IA na educação: o que seus filhos precisam saber, do MIT Technology Review Brasil, reforça que o primeiro passo para implantar ferramentas envolvendo a IA na escola é empoderar o estudante para que eles não sejam reféns do uso dela. Isso incluí educação digital sobre o funcionamento do algorítimos, como identificar fake news e como fazer. Assim, habilidades socioemocionais, preparam crianças e jovens para navegar de forma segura no ambiente digital, aprendendo a proteger-se contra o uso e abordagens impróprias.
Contudo, é nesse ambiente, em que as crianças estão a todo momento repletas de estímulos externos, encontrar o espaço para ensinar lições sobre humanidade e sociabilidade é um desafio. Mesmo assim, estudiosos do tema indicam que usar as tecnologias nesse processo não é só inteligente, mas também necessário.
O mercado está de olho nessa demanda e já existem modelos de negócio direcionados para essas necessidades. Lançada em fevereiro de 2023, a startup “If You Can” desenvolve jogos eletrônicos para ensinar habilidades relacionadas à inteligência emocional para crianças de 6 a 12 anos.
A plataforma educacional combina jogos de simulação de esportes elaborados. O objetivo é ensinar as crianças a reagir com mais empatia em diversas situações, estimulando decisões saudáveis e o desenvolvimento de habilidades sociais.
Educação e IA
Do mesmo lado da moeda, temos o cenário em que as ferramentas de IA são usadas para melhorar a saúde mental das crianças. Na Dinamarca, por exemplo, as escolas estão adotando ferramentas de monitoramento de bem-estar, como a plataforma “Woof”. Assim, o aplicativo permite que os alunos avaliem seu próprio bem-estar por meio de pesquisas e gerem dados sobre seu estado emocional.
Mesmo quando o assunto envolve ensinamentos convencionais, como problemas matemáticos, a IA poderá trazer benefícios. Em abril desse ano, Bill Gates esteve em um congresso de educação em San Diego(CA) e disse que a IA chatbots, como o ChatGPT da OpenAI’s poderão ensinar crianças a ler e escrever, por exemplo.
Nesse sentido, o aplicativo “Khamnmigo” já tem auxiliado alunos a aprenderem matemática e equações complexas. Segundo um relatório da ONU, uma das promessas mais consistentes em relação à IA é a personalizar o ensino. O que permitirá que os professores se concentrem nas necessidades individuais dos alunos. Além disso, vantagens como, automatizar tarefas administrativas dos professores, permitindo que eles se concentrem no ensino, e identificar habilidades que precisam ser aprimoradas nos alunos também são aspectos promissores.
Desafios da educação infantil em tempos de IA
Ainda que a IA apresente inúmeras oportunidades relacionadas à educação, existem lacunas em relação à sociabilidade que ainda não estão resolvidas. Isso porque, no campo da conexão emocional e o desenvolvimento de laços seguros com as crianças, necessários para uma educação de êxito, a IA não poderá substituir o contato humano.
Por isso, os desafios de encontrar o equilíbrio moral e ético para coabitar com as habilidades humanas ainda é o que mais preocupa órgãos como a UNESCO. Segundo a entidade, a solução envolve regulamentação do governo e investimento que garanta acesso à tecnologia para todas as crianças de forma igualitária.
No mundo digital, nas escolas e na vida, quanto antes nos vincularmos aos interesses das crianças, maiores são as chances de orientá-los para um futuro próspero. Por isso, a educação infantil em tempos de IA precisa que adultos estejam de mãos dadas com os pequenos neste novo momento, oferecendo bases emocionais e éticas enquanto as crianças se lançam em todas as maravilhas tecnológicas que estão por vir. Issó é fundamental para alcançarmos a evolução que desejamos ter.
Beijos da Be.