Acompanhe como os millennials vivem a crise da meia-idade, sendo a geração que desafiou o status quo e agora precisa encontrar o equilíbrio entre trabalho e experiências.
Os primeiros millennials chegam a casa dos 40 anos e experimentam a crise da meia-idade com um sentimento de frustração. Afinal, se depararam com uma vida distante daquela que haviam sonhado na infância.
Nascidos entre 1981 e 1998, os millennials são a maior parcela da população brasileira. Com 70 milhões de pessoas, a geração representa a potência capitalista do momento. Nas empresas, 50% da força de trabalho é ocupada por millennials (dados Época Negócios). Em relação à vida pessoal, entre mortos e feridos ou separados e viúvos, 42% continuam casados. Ainda que, 25,8% desses apresentam desapontamento geral quando o tema é “desejo sexual”, segundo pesquisa do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana e da empresa Love Honey.
Então, para entender os motivos de tanta frustração, resolvemos rebobinar a fita, voltar no tempo e entender os motivos da nossa crise da meia-idade.
A turma do Balão Mágico
Com uma infância que mesclou as tradicionais brincadeiras de rua com as infinitas possibilidades imaginativas dos desenhos animados e videogames, os millennials definitivamente cresceram achando que “tinham a força” de ser tudo o que quisessem.
Do mesmo modo, um dos principais acontecimentos na vida dos millennials foi presenciar, já na adolescência, o avanço da internet (final dos anos 90) e a ascensão da noção de globalização. Isso, somado a popularização da TV(nos anos 70), fez a geração ver as fronteiras se encurtarem e perceber eclodir o sentimento de “o mundo é nosso”.
Um mundo de oportunidades
Não há como negar que se olharmos a geração X, anterior aos millennials, debates sobre justiça social e propósito de vida não eram comuns. A internet popularizou lutas das minorias, compartilhou opções sobre estilos de vida e mostrou um mundo de oportunidades e escolhas. Estas, vão além de casar, trabalhar e ter filhos, como as da geração anterior.
Contudo, após observarmos nossos pais insistirem em empregos ruins pelo retorno financeiro, ou em um casamento falido pela concepção de família, percebemos que o livre arbítrio desse mundo sem fronteiras estava ao alcance das nossas escolhas. Assim, essa noção, munida da popularização do autoconhecimento, entregou para os millennials o sonho de mudar o mundo.
Mas, se por um lado temos uma geração com mais liberdade sexual e mais facilidade para trabalhar com o que gosta, por outro lado, o excesso de liberdade nos fez questionar mais o que realmente queremos. Na falta de respostas, muitos millennials, chegam a meia-idade cansados, ansiosos, inseguros e mais pobres que nossos pais. As expectativas fantasiosas que embalavam nossa coragem de se jogar na vida, nos levaram ao medo de fazer escolhas erradas (FOMO) e a dificuldade de solidificar compromissos hoje.
Mercado de trabalho e os valores pessoais
Toda essa exigência tem reflexo também na relação com o trabalho. A geração que achou que ia mudar o mundo, acredita que o trabalho precisa fazer parte desse plano. Assim, 35% dos millennials dizem ter rejeitado um emprego com base em ética ou crenças pessoais, segundo a pesquisa Gen Z and Millennial Survey da Deloitte, divulgada pela Revista Exame.
Outro ponto, é a valorização da flexibilidade laboral e um ambiente corporativo saudável, segundo artigo da Fobes. Com essa quantidade de informação sobre o mundo, autoconhecimento e etc, os millennials condenam a busca pelo lucro a qualquer custo.
Ou seja, valorizamos mais o capital humano, o bem-estar dos colaboradores em uma cultura que estimula a criatividade e incentiva o descanso. Porém, esse sonho ainda encontra barreiras para uma produtividade sustentável financeiramente.
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A economia dos millennials que não aprenderam a economizar
Dentre todas as análises, a econômica é a que deixa os millennial mais preocupados. Não tivemos guerras mundiais, porém, presenciamos inúmeras fragilidades do sistema financeiro capitalista e uma pandemia.
Nesse contexto, existe a peculiaridade de uma geração que condena o acúmulo de capital, somada a valorização de experienciar o mundo sem fronteiras apresentado pela internet. Essa combinação, tem uma consequência mostrada na pesquisa conduzida pela Chartway Credit Union nos EUA. Em que 40% dos millennials têm pelo menos um mês de seus gastos patrocinados pelos pais, o que pode explicar a crise da meia-idade. No Brasil é esperado que esse número seja ainda maior.
Para se ter uma ideia, o sonho da casa própria é uma das pautas que mais preocupa os Millennials. Segundo a empresa Datastore, a idade média do comprador de imóvel do “Minha Casa Minha Vida” no Brasil está entre 35-37. Quando o programa começou, em 2009, a média era de 25-27 anos.
Como a geração burnout cria os filhos
Uma reportagem da BBC aponta que os millennials tem uma propensão maior a exaustão mental em decorrência do trabalho (burnout) do que qualquer outra geração. A constatação resulta de dois fatores principais.
Primeiro, o envolvimento emocional com o trabalho, o propósito, que em muitos casos resulta em uma cultura que glorifica e justifica a sobrecarga. Segundo, as jornadas triplas entre trabalho, cuidar dos filhos, da casa e muitas vezes dos pais, também influencia no quadro de saúde metal.
Assim, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é, com certeza, o desafio principal dessa geração. E os millennials já escolheram o lado que vão ficar. Segundo a pesquisa Changes in parents’ participation in domestic tasks and care for children from 1986 to 2015, pais millennials passam 3 vezes mais tempo com seus filhos do que as gerações anteriores. O número é fruto das lutas feministas por direitos iguais, mas também mostra um esforço coletivo para criar filhos da melhor forma possível.
Do mesmo modo, outro estudo mostrou que 77% das mães milllennials acreditam que é importante ser perfeita na maternidade. Uma explicação para a idealização dos poderes maternos pode ser o acesso à informação nas redes. O melhor alimento, como segurar o bebê, como amamentar, dar banho, atividades antes passadas de uma mãe para outra ou aprendidas de forma instintiva, hoje passam pelo crivo de qualidade do perfeccionismo das redes. Um levantamento da Refinery29 (2019) mostra que 82% das mães comparavam-se com figuras maternas na internet para se informar em relação à criação dos filhos.
Vida Digital e marcas como alívio para a dor da vida real
Essa preferência por tentar fazer escolhas melhores reflete também na forma que os millennials se relacionam com marcas. Nossa geração preza por autenticidade e transparência quando o assunto é conteúdo de marketing e tende a acreditar que produtos trazem super poderes.
Simultaneamente, 63% dos millennials declaram que o tempo que passam nas redes sociais vem aumentando com o passar dos anos. Então, a fonte que inspira nossa geração, está nas redes que também servem como escape da exaustão da realidade.
Para a consultora e autora Lindsey Pollak, as críticas em relação aos millennials “foram amplificadas pela internet e pelas mídias sociais”. Para ela, as redes funcionam como um “microscópio” analisando e julgando diariamente nosso comportamento a respeito da “recusa a amadurecer” ou a instabilidade no mercado de trabalho.
De fato, a globalização, os avanços tecnológicos, a enxurrada de informação das redes afetou profundamente diversos aspectos da vida de quem nasceu entre 1981 e 1996 e se propôs a viver todas essas mudanças. Guiados pelo sonho de um mundo melhor, millennials se jogaram na vida cheios de questionamentos, exploraram o novo e após tantas transformações chegaram na crise da meia-idade.
Contudo, para viver esse momento é preciso aprender a admitir que nem sempre novos caminhos nos levam “a tal da dona felicidade”. Mas a falta de curiosidade e coragem para explorá-los não é solução para nossa evolução. Assim, chegamos aos 40 anos com a convicção de que encontrar a medida apropriada entre sonho e realidade, demanda tentativa e erro. E quem sabe esse seja o início de uma nova maturidade.
Beijos da Be