Entenda o que está por trás do interesse humano em tecnologia. Quais são os aspectos do comportamento e da evolução humana que motivam as inovações?
Há 16 anos atrás o Iphone transformou como nos comunicamos e abriu o caminho para o desenvolvimento de novas tecnologias que oferecem funcionalidades para facilitar nossa rotina. Com o slogan “Hoje a apple vai reinventar o telefone” a motivação da empresa era desenvolver um celular mais fácil de usar, ou seja, com maior comodidade para o usuário. A busca por promover comodidade parece estar por trás do interesse humano tecnologia, mas será que é só isso?
Busca por conforto
De uma perspectiva antropológica, o historiador e futurista Yuval Noah Harari também defende que a busca por comodidade foi crucial para o estabelecimento humano da forma que conhecemos. Em seu livro, Homo Sapiens, Yuval argumenta que a evolução humana e a busca incessante por desenvolvimento e inovação tecnológica está ligada a busca para ampliar o conforto para existência humana. O desenvolvimento da agricultura, por exemplo, foi o ponto de virada para o início da formação das cidades em que deixamos de ser caçadores coletores. Segundo o livro, isso aconteceu para que humanos tivessem segurança alimentar e conforto ao poder contar com comida conforme a demanda.
Milênios se passaram e parece que a justificativa para investir em novas tecnologias segue a mesma lógica, trazer conforto, comodidade e segurança para a vida na terra. No último lançamento da Apple, o Vision Pro, a empresa exalta mais uma vez que está reinventando as experiências de realidade virtual.
O novo produto promete envolver o usuário de tal forma que irá criar uma experiência muito mais imersiva. Além disso, exalta um novo passo na corrida pela atenção total do usuário. Ou seja, a principal arma do Vision Pro é diminuir drasticamente as possibilidades de dispersão. No geral, as funcionalidades prometem maior comodidade na hora de realizar atividades de trabalho ou entretenimento quando você está utilizando o óculos. Tudo será controlado pelo olhar, com o menor envolvimento de esforço possível.
A cura de doenças
Outra motivação para o desenvolvimento de novas tecnologias e descobertas científicas é a evolução científica. No livro Homo Sapiens, Yuval liga esse comportamento a angústia existencial humana relacionada a morte e ao desconhecido.
“A grande descoberta que deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não têm as respostas para as suas perguntas mais importantes”
O historiador defende que, como humanos, a falta de controle sobre doenças, por exemplo, é usada como justificativa para novas pesquisas. O que os especialistas alertam é que após o desenvolvimento da tecnologia, o uso pode ser diverso, não se limitando “ao bem geral da nação”
É o caso da Neurolink, um dos empreendimentos de Elon Musk. A empresa desenvolveu um chip que será implantado no seu cérebro com o propósito de ajudar pessoas a voltar a andar, enxergar, curar doenças degenerativas ou a depressão.
Acontece que o efeito disso a longo e médio prazo ainda é desconhecido. Além disso, não sabemos como essa tecnologia pode afetar a nossa relação com o mundo externo.
Saúde vs autonomia
O livro Homo Deus, de Yuval Noah Harari, continua a contar a história da saga humana na terra. No segundo livro, o historiador argumenta que essa busca por controlar aspectos ligados a saúde pode se tornar uma forma de cercear o livre arbítrio humano.
Ele dá o exemplo das tecnologias de saúde que possibilitam o controle constante de todos seus sinais vitais e como eles se relacionam com o espaço externo. Nesse sentido, essa tecnologia poderá monitorar seu estado emocional em situações diferentes da sua rotina e te indicar qual escolha você deve fazer frente das situações diárias, exemplo, escolher entre dois possíveis relacionamentos. Tudo isso, baseado em dados anteriores de reações fisiológicas, como batimento cardíaco do seu corpo, pressão sanguínea e alteração hormonal, por exemplo. Esse sistema saberá mais sobre você do que você mesmo.
A partir disso, quanto mais pessoas usarem, mais informações estarão disponíveis na nuvem e o sistema será responsável por definir o que fazer com esse conhecimento. Com essa quantidade de informação, estamos caminhando para um mundo sem autonomia diante da tecnologia.
Otimização de tempo
A percepção de tempo é um fenômeno completo que desde sempre é objeto de observação e debate pela ciência e filosofia. Para o filósofo Aristóteles, por exemplo, o tempo é a medida da mudança. E a mudança é a nossa única constante. Já Einstein explorou os mistérios do tempo na Teoria da Relatividade e afirmou que o tempo não é igual para todos e pode variar conforme a velocidade, gravidade e espaço.
Seja como for, o tempo passa e essa passagem ainda é cheia de mistérios.
Não há tempo a perder, não podemos voltar atrás, não se pode prever o futuro, essas e outras frases ilustram um dos mistérios da existência humana que motiva diversas inovações tecnológicas.
As startups, por exemplo, estão prontas para lançar o aplicativo que vai fazer você economizar mais tempo. Os eletrodomésticos evoluem a cada ano para poupar o tempo que você gasta com serviços domésticos. A inteligência Artificial cria ferramentas para poupar o tempo de produção e reservar mais tempo para que nós humanos possamos dedicar ao que queremos.
Mesmo com tantas inovações em relação ao tempo, é comum termos a sensação de que o tempo passa a cada dia mais rápido e que temos cada vez menos tempo para nós mesmos. Segundo Rodrigo Turin, professor de História na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), essa contradição pode ser explicada pelo fato de que as evoluções da comunicação e tecnologia encurtaram espaço e isso mexe com nossa percepção de tempo. Além disso, quanto mais rápido algo é feito, melhor é considerado o processo.
Desta forma, quanto mais rápido fizermos algo, mais atividades colocamos em nossas rotinas o que acaba aumentando a sensação da passagem do tempo.
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Tecnologia e humanidade
São essas angústias e contradições existenciais que continuam direcionando os estudos para inovações tecnológicas e científicas.
Todos esses debates filosóficos e existenciais são antigos em nossa sociedade, a filosofia clássica é precursora de muitos deles. Porém, a rotina agitada nos coloca imersos apenas no produto dessas angústias sem entender a origem desses questionamentos e como chegamos até aqui.
Voltando ao Yuval Harari, entendemos que para falar sobre o futuro é preciso primeiro estudar o passado.
Beijos da Be.