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A Revolução da Conexão Humana: da internet discada até a IA

Entenda como o aumento da velocidade de conexão, resultado do avanço das tecnologias digitais, influencia na conexão humana e nos desafios enfrentados pelos relacionamentos modernos.

Quem aí se lembra de esperar dar 00:00 para acessar a internet discada na tentativa de iniciar uma conexão menos lenta, porém cheia de oportunidades no universo digital? Parece que foi ontem, mas a internet discada apareceu nas nossas vidas no final dos anos 90 e iniciou uma revolução na conexão humana. Desde então, as distâncias se encurtaram, barreiras sociais foram quebradas, mais pessoas ganharam voz e até as emoções viraram emojis. É de se esperar que tanta novidade tenha mexido com muitos padrões sociais, não é mesmo?

Se na época da internet discada a velocidade da conexão era em torno de 40kbps, hoje em dia, temos 27400 kbps disponíveis, um aumento de 68000% de fluidez, num espaço onde antes exigia muito da nossa paciência e esforço para poder fazer parte. O mundo mudou e hoje vivemos a economia do algoritmo, onde tudo se torna mais rápido e fácil com ajuda da IA e, ao mesmo tempo que tiramos proveito dos benefícios, nossa saúde mental nunca foi tão afetada e a nossa percepção sobre a importância dos relacionamentos e laços profundos para a vida humana, nunca foi tão clara e discutida. 

A vida perfeita do Instagram vs a imperfeição das conexões reais

Dentro desse multiverso chamado mídias sociais, um ponto que tem chamado atenção de cientistas sociais, políticos e filósofos é o aumento da polaridade, como consequência desse contato com um mundo regido por códigos binários, e está longe de representar a falta de padrões e o nível de complexidade das relações humanas. A tentativa fracassada de se estabelecer uma “intimidade artificial”, termo cunhado pela psicoterapeuta especialista em relacionamento Esther Perel, ascende o debate entre profissionais na área. Para eles, estabelecer conexões reais começa com um desejo humano, portando uma ação, e o esforço para estabelecê-las e mantê-las se dará ao longo do tempo em que os envolvidos acreditarem nelas. Ou seja, são um ecossistema vivo, orgânico, que precisa ser regado, aparado e cuidado, que faz sorrir, que faz chorar, como tudo que tem vida na terra. 

O filósofo Nietzsche no seu livro “Humano, demasiado humano” rompe com a ideia do amor idealizado, como o exaltado na intimidade artificial, para jogar luz as camadas que influenciam a construção dos nossos pensamentos e valores. Para ele, a combinação única de experiências individuais e influências culturais resultam em valores que estão sujeitos a mudança contínua conforme caminhamos pela vida.

Esse romantismo exacerbado que leva ao desencontro entre o que somos e o que gostaríamos de ser já apresenta consequências no sucesso dos relacionamentos modernos. Em janeiro (2024), uma pesquisa do jornal britânico Financial Times sobre o posicionamento político de homens e mulheres sacudiu a internet. Segundo o jornal, enquanto mulheres apresentam um crescente posicionamento progressista sobre o mundo, homens se tornam cada vez mais conservadores. 

Efeito mídias sociais

Dentre os motivos para tal, o estudo destaca o papel nocivo das redes sociais como combustível para essa fogueira. O jornal The Guardian, por exemplo, aponta a viralização de termos cunhados pelo feminismo como “masculinidade tóxica” pode ser parte do problema. Ou seja, a promessa do avanço educacional promovido pela alta velocidade de compartilhamento de informação nas redes parece estar mais nos afastando do que aproximando.

À primeira vista, a revelação é positiva: mulheres estão entendendo seu lugar social e concluindo que para mudá-lo é necessário aderir a uma visão progressista. Porém, a decepção pela reação masculina e de o progresso não se materializar no dia a dia, já que as diferenças de gênero seguem gritantes em espaços sociais, afasta o desejo de muitas mulheres a se dedicarem em conexões com homens. Por outro lado, homens têm dificuldades de romperem com suas expectativas para se dedicarem à construção de conexões reais com a mulher contemporânea. E como faremos para reunir esses casais?

A Inteligência Artificial e a evolução da conexão humana 

marcas conexão humana e inteligência artificial

Em meio a tantas perguntas não há como definir uma resposta simples e assertiva. E este é o ponto de virada dessa conversa. Se não existe caminho simples para um problema complexo, o primeiro passo parte do amadurecimento humano para colocar a inteligência artificial no lugar dela, de auxílio a nós e não de substituição. Conforme compreendemos que a revolução da conexão humana precisa de esforço conjunto e comprometido de diversos setores da sociedade, conseguimos vislumbrar possibilidades para que a Inteligência Artificial nos beneficie.

1. Indivíduos

Trabalhar a qualidade das nossas interações é fundamental para encontrarmos mais benefícios na revolução da conexão. Costumes sociais devem ser revistos para que a nossa sociedade aprenda a se comportar de uma maneira mais saudável com as novas tecnologias. O neurocientista Andrew Huberman, a psicoterapeuta Esther Perel e filósofos como Nietzsche, sugerem que compartilhar experiências reais e por consequências imperfeitas é o caminho. Gentileza, partilhar experiências fisiológicas, normalizar nossas vulnerabilidades como erros e defeitos na tentativa de corrigi-los e a reeducação das expectativas de relacionamento, são aspectos para conexões humanas reais. Essas sugestões preparam nossos corpos para passar por sensações parecidas, podendo gerar empatia, identificação e fortalecer laços. 

2. Governos

Nesse sentido, o papel regulatório do governo é fundamental para seguirmos em uma evolução segura. O professor Scott Galloway reforçou essa necessidade no SXSW ressaltando que o governo precisa ser mais proativo, legislando de forma preventiva. Nesse caminho, eleitores devem apoiar congressistas moderados e que se mostram imersos nas discussões atuais, ao invés de antigos figurões políticos.

3. Tecnologia

Empresas que estão por trás dos avanços tecnológicos precisam entender que são as primeiras responsáveis pela educação sobre um uso seguro. Além disso, devem seguir inovando também nas formas de prover ferramentas para enfrentar as consequências ruins da IA. Se os algoritmos não favorecem o diálogo e compartilham conteúdos polarizados, quem controla os algoritmos precisa se responsabilizar por isso. Por fim, é necessário seguir as regras de regulamentação e sugerir melhorias.

Marcas e a evolução da conexão humana

Sem herói e bandido para protagonizar o problema, também é impossível assumir que as marcas e o marketing seriam os responsáveis por nos salvar dessa crise de conexões. Mesmo assim, diversas empresas estão de olho nessa demanda crescente por interações presenciais e encontros físicos e não à toa o termo experiência de marca apareceu em diversas palestras durante o festival de criatividade SXSW e segundo reportagem da Época, 80% dos clientes enfatizam que a experiência que uma empresa proporciona é tão importante quanto os seus produtos ou serviços.  

Kim Aimi, diretora de marketing da Visa, exemplificou a realidade relembrando que  27% dos consumidores deixariam uma marca rastrear seus sentimentos se isso fosse entregar experiências mais personalizadas. Para isso é necessário assegurar alguns pontos:

1. Experiências com significado

Muito além de plotar um espaço com a logo e tirar uma foto de lembrança, as marcas precisam criar ativações que levam o consumidor em uma jornada de reflexão com ele mesmo, para que ela seja lembrada como parte desse processo. O aplicativo “Time Left” é um exemplo de marca que nasceu já apostando na experiência. O usuário faz um cadastro para sair jantar com um grupo de pessoas. A ideia pretende impactar na crescente epidemia de solidão e dificuldade de conexão entre as pessoas na correria da modernidade.

2. Atendimento

Mesmo com o avanço dos “Chat Bots”, não podemos esquecer que atendimento bom é atendimento humano. As marcas precisam valorizar a troca humana e aproveitar o valor inestimável cada interação oferece nos pontos de contato com seus clientes.

3. Personalização

Sonya Gafsi Oblisk, que comanda o marketing do Whole Foods, lembra que a principal fonte de ideias para criar as experiências imersivas são os feedbacks vindos dos próprios consumidores. E por vezes, ainda que dados quantitativos falem algo diferente daquilo que está sendo levantado pelos consumidores, são as avaliações qualitativas que irão trazer luz sobre as raízes de problemas. 

A revolução da conexão humana

marcas conexão humana e inteligência artificial

Enquanto o ruído do antigo nos deixavam animados, o ruído causado pela dificuldade de conexões que enfrentamos hoje vem adoecendo muitas pessoas. Assim, se conectar é cada vez mais urgente no mundo de hoje e é preciso haver uma mobilização social, governamental e empresarial para que esta crise seja amenizada e que a nossa conexão com esse novo mundo que se aproxima, seja menos traumática. 

No fim, só a união de características bem humanas, como, coragem para se comunicar, ser ético e responsável é que podem unir o ser social que ficou perdido na velocidade da banda larga.

Beijos da Be.

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