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Autenticidade em tempos de Inteligência Artificial

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Explore as dimensões da autenticidade em tempos de inteligência artificial, refletindo como a arte, marcas e pessoas preservam essa vantagem.

Com o avanço das ferramentas de Inteligência Artificial, cada vez mais nos perguntamos o que é realmente digno de reconhecimento, apreciação e admiração? Músicas, obras de arte, produções textuais, fotografias e até a atuação, todas as formas de arte estão sendo colocadas em cheque e a autenticidade em tempos de IA é tema recorrente.

Como retroceder com os avanços que a IA nos trouxe não é uma opção, procuramos a opinião e análise de sociólogos e jornalistas em tecnologia para desenhar o caminho que garante a que a autenticidade humana continue recebendo o devido crédito quando o assunto é criatividade.

Divisão da autenticidade

Em tempos de desinformação e fake news fica cada vez mais evidente a importância da autenticidade. Uma qualidade que fortalece a confiança necessária para o convívio social. Nesse sentido, o psicólogo George Newman explorou essa questão e descobriu que existem três dimensões principais da autenticidade.

  1. Autenticidade história: Quando algo é autêntico por representar tempo e lugar que foi produzido. Por exemplo, obras de arte antigas.
  2. Autenticidade categórica: Quando algo corresponde às expectativas de inovação daquela categoria. Por exemplo, uma pizza napolitana não precisa ser feita em Nápoles para ser autêntica, desde que ela siga uma receita verdadeira. Assim, só porque algo se encaixa na categoria esperada, não significa que será genuíno.
  3. Autenticidade baseada em valores e crenças: nesse caso, a subjetividade do uso de ferramentas de IA pode determinar se algo é autêntico ou não. Por exemplo, quando um marceneiro fabrica móveis a mão, ainda que use ferramentas para cortar, lixar e polir a madeira, sua produção é autêntica, pois as ferramentas auxiliaram o processo. É nesse limbo de interpretação humana que a IA pode também produzir autenticidade.

Por isso, com o avanço da IA generativa, a autenticidade em tempos de inteligência artificial está mais ligada ao esforço humano implicado para ter aquele resultado do que os meios usados. Além disso, a distinção entre autenticidade histórica e categórica deve ser a principal fonte de atenção. 

Autenticidade importa?

O estudo Human cortical activity evoked by the assignment of authenticity when viewing works of art (Atividade cortical humana evocada pela atribuição de autenticidade ao visualizar obras de arte), analisou as respostas cerebrais das pessoas quando expostas a obras de arte autênticas e cópias. Na ocasião, os pesquisadores informavam os participantes sobre quais das obras eram autênticas ou não. 

 Os resultados mostraram que as áreas visuais do córtex cerebral responderam às imagens dos retratos, independentemente de sua autenticidade. No entanto, o cérebro ativa outras áreas em resposta à atribuição de autenticidade. São elas, córtex pré-frontal (FPC) direito, o giro temporal médio direito, o precuneus direito e o córtex orbitofrontal, este provavelmente relacionado ao valor da obra. Segundo o estudo, essa ativação pode estar relacionada ao processamento de hipóteses e ao julgamento da autenticidade das imagens. 

Resumindo, o estudo demonstra que a autenticidade influencia a percepção estética de uma obra. Esta, quando informada, envolve a ativação de mais redes cerebrais, em vez de uma única área específica. Isso tem implicações para a compreensão de como o cérebro responde à arte e como a expertise de terceiros, ao informar o que é fake ou não, pode influenciar nossas decisões e experiências diárias.

Assim, acreditar que uma obra de arte é autêntica ativa o sistema de recompensa do cérebro de uma maneira que não é possível com um objeto sabidamente falso.

Inteligência Artificial e inovação

Para marcas, ser autêntico significa ser fiel aos seus valores e propósitos e de forma constante e consciente. E a melhor forma de exaltar essa autenticidade é por meio do autoconhecimento.  Primeiro, uma marca autêntica não vai temer a inteligência Artificial, ao invés disso, vai aproveitar as funcionalidades que se encontram com os valores dela para ampliar e valorizar a criatividade humana.

A sociologia cultural, Siri Beerends compartilha em seu website, suas pesquisa e implicações éticas das tecnologias digitais no SETUP Media Lab. Ela teme que no processo de aderir à IA as marcas e humanos se tornem mais parecidos com as máquinas.

Na visão dela, estamos mais uma vez na busca de ganhar tempo e arriscamos deixar de lado nossa principal vantagem em relação à IA. Ela cita como exemplo o trabalho de call center, que recentemente vem utilizando a análise por meio da IA para definir o nível de empatia do funcionário. Uma das variáveis do programa é a quantidade de vezes que o funcionário utiliza a palavra “desculpa”. Desta forma, um funcionário que, antes reagia ao cliente, conforme entendesse e sentisse suas necessidades, agora prioriza palavras “certas” na busca de uma boa qualificação maior.

A revolução da Alexa

Outro exemplo, ainda mais alarmante, é em relação à comunicação humana. Um artigo do jornal The Wall Street Journal, Alexa: Don’t Let my 2 Year Old Talk to You That Way (Alexa: não deixe meu filho de 2 anos falar com você desse jeito), aponta que pais estão preocupados de que seus filhos estejam aderindo como falam com os robôs, também com os humanos. Ou seja, estamos adaptando a nossa comunicação para forma que “falamos” com robôs. Assim, se perdem as nuances de sentimentos, humor e autenticidade e transcende uma linguagem imperativa, com menos palavras e mais “assertiva”, na visão de alguns. 

Assim, Beerends ressalta que se nos tornamos previsíveis, perdemos a principal vantagem em relação à IA, que é nossa subjetividade e é a forma que nossas crenças e valores sociais foram construídos. Desta forma, ela defende que devemos esperar inovação um dos outros e menos da IA. Isso porque a IA tende a ser “conservadora”, pois é baseada em um banco de dados pré-definido e só reproduz ideias passadas.

Desta forma, para marcas, a autenticidade em tempos de Inteligência Artificial também significa que ela está conectada a seus clientes e comunidade de maneira honesta e significativa. Trazendo novas narrativas e soluções para os problemas sociais, por exemplo.

“Em terra de robô quem tem coração é rei”

autenticidade em tempo de inteligência artificial

Mesmo com muitas incertezas, os especialistas parecem concordar que nosso super poder em relação à IA é a emoção. A futurista Martha Gabriel e o publicitário Walter Longo debateram o tema no podcast “os sócios”. Eles ressaltaram que quanto mais tecnologia em nosso cotidiano, mais valorizamos o que é humano.

Os dois reforçaram que qualidades como, consciência, empatia, moralidade, intuição e desejo são algumas características humanas responsáveis por guiar os avanços da Inteligência Artificial, nos diferenciar das máquinas e manter nossa autenticidade frente às funcionalidades que a IA pode oferecer.

Com uma visão positiva, Walter Longo acredita que a IA cresce para que “o humano tenha tempo de ser humano de novo”. Ou seja, a IA nos permitirá ter mais tempo para nos conectarmos as atividades humanas. Nesse sentido, ele defende que autenticidade em tempos de Inteligência Artificial será a capacidade de reflexão e o diálogo em grupo. O que andará junto em um mundo onde o indivíduo e sua contribuição humana serão super valorizados.

A greve dos roteiristas em Hollywood e a Inteligência Artificial

greve dos roteiristas e IA

A greve dos roteiristas em Hollywood já passou de 2 meses e pela primeira vez o Screen Actors Guild (SAG) e o Writers Guild of America (WGA) entraram em greve ao mesmo tempo. Isso por que, ambos têm como reivindicação principal a regulamentação do uso de tecnologias de Inteligência Artificial.

Quem assistiu ao primeiro episódio de Black Mirror também viu se materializar o poder e o caos que o uso da IA pode repercutir no mundo do audiovisual. A crítica feita pelo episódio, em que uma atriz digital executa papéis que não agradam à atriz do mundo real e quando ela tenta parar a exibição, se dá conta que perdeu o controle sobre sua imagem. Esse cenário se torna cada vez mais possível e é justamente um dos pontos-chave da  greve.que exige o comprometimento dos estúdios, em contrato, com a limitação do uso de IA na reprodução de imagens dos atores. Mesmo que seja ficção, nós já comentamos outras vezes por aqui o quanto a arte e a vida se imitam.

Segundo Barry Diller, presidente do conglomerado IAC, “Tudo isso foi causado por superinvestimento em streaming e vários níveis de ilusão”. A declaração reafirma a posição dos grandes estúdios em reduzir custos e usar a IA para isso.

Assim, o combate não tem perspectiva próxima de resolução, pois atores e roteiristas pedem, justamente, por mais valorização.

É fato que os processos criativos mudarão com a disponibilidade generalizada da IA Generativa. Porém, a resolução da greve nos mostrará como a sociedade está disposta a encontrar o equilíbrio entre a autenticidade humana e a automatização da IA.

Beijos da Be.

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