Aproveitar as tendências e surfar das trends das redes é fundamental para impulsionar sua marca no mundo digital. Entenda como equilibrar a autenticidade, relevância, enquanto conecta seu público e capitaliza as oportunidades emergentes.
As redes sociais revolucionaram diversos comportamentos humanos e setores sociais. Da forma como nos conectamos até onde nos informamos, o mundo digital é parte da nossa realidade. Por isso, as marcas também estão presentes neste mundo ajudando a cocriar essa realidade e para isso precisam surfar nas trends das redes.
Com o desenvolver dos algoritmos e da nova realidade digital, as trends são fenômenos onde um determinado tipo de conteúdo ganha popularidade por um período e leva um considerável número de pessoas a replicar o conceito. Assim, marcas usam o movimento natural das redes para impulsionar seus lançamentos e reafirmar seu posicionamento e valores.
Acompanhe alguns caminhos para aproveitar o potencial das trends, sem perder sua autenticidade e relevância.
Tendências de comportamento
Na década de 60 foi a vez da minissaia. A nova peça trouxe junto tendências de comportamento culturais e de consumo. Já a combinação paetê, criatividade, brilho e ousadia, você já sabe que estamos falando da consagrada década de 80. E aí, talvez como uma resposta de quem sobreviveu ao fim do mundo, nos anos 2000 a moda misturou todas as cores e a diversidade de culturas e subculturas tomou conta para fechar a energia caótica. Assim, tendências flutuam pela nossa história nos inspirando por meio do sentimento de pertencimento.
Nesse cenário, a moda sempre ocupou um papel central em iniciar o movimento de uma nova tendência a partir de uma peça de roupa. Mas, o que antes era ditado por bureaux e passarelas, agora sofre forte influência das redes sociais. Por vezes, a trend, antes mesmo de aparecer nas passarelas, começa lá no perfil da influencer do TikTok.
Nas redes, o relógio sazonal das passarelas não funciona. Isso por que se a influenciadora em questão está passando férias na Antártida, de nada interessa qual a coleção apresentada na semana de moda. Ou seja, o contexto de cada momento daquela personalidade normalmente interessa mais do que o produto. Nesse novo mundo, a venda vem durante o hype, apoiada no conjunto de sentimentos apresentado a audiência, a “aesthetic”. Sabe aquela sensação de usufruir de um lençol recém trocado e alinhado na cama? O termo “aesthetic” representa esse sentimento sublime da junção harmônica de formas, cores e cheiros que se espalham pelas redes de forma sutil. Propício para deitar e se espalhar, certo?
Mas, assim como o lençol recém trocado, a trend pode durar apenas uma noite. Então, as marcas tem o desafio de identificar as tendências do momento e se incluir na conversa ou aprender a criar suas próprias tendências para aproveitar dessa harmonia e acordo social.
Na década de 80, as marcas já sabiam que quando a Madonna aparecia fazendo consumindo algo, elas precisavam estar atentas a uma provável nova tendência. Mas, e agora, para quem e quando olhar?
Gen Z e as tendências
A Geração Z cresceu no digital e um dos desdobramentos culturais disso é que se comparada a outras gerações é a mais solitária, segundo uma pesquisa recente da empresa de saúde Cigna. Carentes de pertencimento, a consequência é uma geração mais suscetível as trends, pois seguindo tendências, a Gen Z se sente parte de algo e desfruta de conexão emocional. O resultado é que 44% deles afirmam já ter tomado uma decisão de compra baseada em uma recomendação de influenciador, de acordo com pesquisa da empresa Kantar.
Neste contexto, influenciadores, celebridades e formadores de opinião compartilham seu mundo dos sonhos recheado de marcas, produtos e serviços que apoiam esse “aesthetic” ideal. Ou seja, o produto da vez é só um complemento para algo sublime.
Fontes de informação
Outro caminho para não perder o hype é consumir informação de qualidade e cruzá-las na tentativa de enxergar o início de uma nova onda. Isso significa diversificar sua fonte de informações (podcast, livros, congressos e books de tendências), consumir cultura de diferentes formas (filmes, séries, festivais, exposições, etc), viajar e frequentar lugares inusitados e acompanhar influenciadores de tópicos diversos como, branding, cultura, psicologia, arte, moda, música e lifestyle.
Em todos os casos, obter a informação e mergulhar no campo de interesse é só o começo para estimular seus sentidos e aprender a identificar o que pode ser uma tendência. Transformar essa informação em trend nas redes requer um trabalho de longo prazo, intencional, criativo e planejado junto a audiência.
Brainwashing: crie sua tendência
Observar o caminho de ascensão da street art no documentário Banksy: Exit Through The Gift Shop, traz algumas hipóteses de como surfar nas trends das redes ou impulsionar uma tendência do zero. No doc assistimos à trajetória do francês Thierry Guetta até se tornar o Mr. Brainwash, um dos artistas de rua mais famosos dos anos 2000.
Thierry Guetta acompanhou e filmou por anos diversos artistas de rua. Dentre eles o célebre Banksy, responsável por intervenções urbanas memoráveis, como a pintura de 2005 feita em um muro construído entre Israel e Palestina, resultado do conflito entre os países.
O que Thierry percebeu durante os anos é que a arte de rua é uma “ilusão de poder”. Quanto mais as pessoas veem algo estampado nos muros, mais elas se perguntam o que aquilo significa. Ou seja, quando a arte de rua estampa angústias sociais, escancara conflitos culturais e sacode a rotina de quem transita pela cidade, ela também instiga sensação de pertencimento e dúvida na cabeça das pessoas. E em um processo de criação conjunta baseado em conexão emocional, temos uma nova trend.
Não à toa Thierry se autointitulou o Sr. Lavagem cerebral (Mr. Brainwash). Já que ele replicou o modelo que aprendeu enquanto documentava o trabalho dos amigos durante anos. Apresente uma ideia repetidas vezes, incite o questionamento e percepção social, tenha reconhecimento. Após criar a conexão, Mr. Brainwash, diferente de seus amigos artistas, escolheu tornar sua street art em produto industrializado, com preços bem mais acessíveis, ganhando assim muito lucro e inimizades no meio artístico.
No mercado das trends a publicidade convencional em que se oferece o produto não funciona mais. Agora, compramos aquela sensação harmônica de “é essa vida que eu quero para mim” (aesthetic), “é essa bandeira que eu quero levantar”, “é com essa pessoa que eu me pareço”. A influencer que de tanto ser mostrada no feed desperta minha curiosidade e interesse.
Na arte, na moda, nas redes e na vida, o que queremos é uma marca que ofereça a solução para conquistar a vida que desejamos.
Essa tendência é para mim?
Marta Indeka, analista sênior de previsão da consultoria The Future Laboratory, disse em uma entrevista para Vogue que tudo pode ser uma tendência relevante para as marcas desde que traga uma estética viral que inspire a compra junto a uma boa frase. Para surfar nas trends das redes, a preocupação principal é saber se a tendência se encaixa no seu negócio ou não. Para isso, identifique como aquilo que está emergindo nas redes pode se encaixar no seu produto ou serviço.
Recentemente a #tomatogirls tomou conta das redes sociais. O que inicialmente começou com um movimento despretensioso da influencer Hailey Bieber, que postou uma foto com a hashtag #strawberrygirl em cenários paradisíacos durante suas férias, evoluiu para tendência no verão europeu. Celebridades como Dua Lipa, Billie Eilish e as brasileiras Jade Picon, Bruna Marquezine e muitas outras acompanharam a tendência e fizeram a alegria de seus seguidores.
A partir daí, se o lifestyle promovido pela tendência tem a ver com a marca, por que não aproveitar e surfar a onda?
Para além do óbvio, as marcas podem capitalizar esses interesses que surgem nas redes com produtos secundários que se encaixam na vibe daquela trend. No caso da estética Tomato Girl, por exemplo, uma ferramenta de comércio eletrônico, e-tailor, percebeu 30% de aumento nas vendas de produtos praianos. Eles acreditam que o movimento é resultado da trend que exalta bochechas vermelhas queimadas do verão europeu.
Assim, o objetivo do marketing em tempo real é ser capaz de conectar tópicos em tendência à sua marca de maneira significativa. Ou seja, a conexão não precisa ser direta, mas deve fazer sentido para o público e a reação precisa ser rápida para aproveitar os temas emergentes.
O timing(tempo) para surfar nas trends das redes
Apesar de funcionarem por um tempo específico, as Trends não são apenas sobre o momento. Isso quer dizer que se sua marca não pegar a onda na hora, ela ainda pode fazer uma campanha sustentada na estética da tendência para surfar nas trends das redes. E isso também desenha um fenômeno bem conhecido, o que já foi trend um dia, vira meme para posteridade. Assim, se sua marca tiver o insight que conecta tudo isso, uma nova trend pode nascer ou vir até você.
É o caso da aparição da sandália da Birkenstock no filme da Barbie. Com uma identidade icônica, Greta Gerwig diretora do filme, se apoiou nos valores da marca, que já foram meme nas redes, para construir uma narrativa para Barbie. Como consequência, a marca de calçados recebeu a trend pronta e só precisou embarcar naqueles que já eram seus valores. Depois do longa, as vendas subiram tanto que o mercado financeiro está cogitando a entrada da marca na bolsa de valores de Nova York.
Neste caso, é interessante notar que para Birkenstock não foi sempre assim. A marca existe desde 1774, mas só em 1960 lançou sua primeira sandália. Inicialmente posicionada como um item de saúde, as sandálias já representaram a comunidade “Crunchy Granola” (a galera good vibes no Brasil). Depois, representaram o grupo que defende que conforto é maior que moda e por fim, em um movimento recente consolidado na pandemia, se tornou um símbolo do conforto fashion.
E foi sabendo de todo esse histórico que Greta aproveitou a bagagem e pluralidade cultural que vinha com a Birkenstock e ao apresentar a sandália no filme, a diretora ofereceu também uma reflexão sobre comportamento e sobre “mundo real”.
Ou seja, por anos a Birkenstock sustentou seus valores iniciais relacionados à saúde e conforto. Assim, consolidou sua marca e agora aproveita o reconhecimento.
Cocrie o amanhã com sua audiência
Já que marcas precisam de pessoas para reforçar sua aesthetic junto ao público, usar micro influenciadores e a própria audiência, é um caminho para criar o interesse da rede. Nesse cenário, a pessoa faz das redes o papel que a vendedora fazia na loja. Com conhecimento sobre o que oferece, fica mais fácil de conquistar o consumidor com autenticidade.
E sua marca, está pronta para surfar nas trends das redes?
Beijos da Be.